segunda-feira, outubro 25, 2010

SETE DIAS NO MUNDO DA ARTE

Com base em centenas de horas de “observação participativa” e mais de 250 entrevistas com artistas, marchands, curadores, críticos, colecionadores e leiloeiros, Sete dias no mundo da arte exploram momentos ícones e "folcloricos" do mundo artístico contemporâneo.

Abaixo a Matéria de Silas Martí/Ilustrada - Folha de S. Paulo em 25 de outubro de 2010

O lance da arte por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Livro descreve com ironia e acidez os bastidores do mundo da arte, dos ateliês e bienais aos leilões milionários

Na mão esquerda, Sarah Thornton usa um anel com uma tecla de computador que traz escrita a palavra "Bild", imagem em alemão. Ela faz anotações num Moleskine vermelho, usa sandálias em estilo gladiador com acabamento prateado e deixa ver as unhas dos pés tingidas de esmalte laranja vivo.
Sorri e gargalha entre as frases, deixando ver dentes brancos em perfeito alinhamento atrás de lábios cobertos de batom cor de sangue.

Thornton, alvo desta entrevista, está aqui descrita como faz com seus interlocutores no livro "Sete Dias no Mundo da Arte", que ganha agora tradução para o português, pela Agir. Antes de qualquer conteúdo, uma imagem -já anuncia o anel.

No livro que está em sua sétima edição nos Estados Unidos e passou meses em listas de mais vendidos pelo mundo, com versões até em chinês e japonês, Thornton destrincha em escala global o chamado mundo da arte.

Penetra nos lugares onde poucos conseguem entrar e conta tudo que viu e ouviu.
Põe em prática sua formação de antropóloga para enquadrar com ironia e acidez os ritos e cerimônias da tribo que veste Prada e devora arte.

"Não sou uma crítica, não escrevo resenhas", diz Thornton à Folha, no café de um hotel em São Paulo, onde veio pesquisar para seu próximo livro. "Se quer escrever sobre os bastidores da cena, não pode julgar o que vê."

Talvez não seja explícito seu julgamento, mas um tom de deboche sublinha as cenas mais absurdas do livro. Num leilão da Christie's, descreve o teste dos microfones, para que o som das vendas saia cristalino. Gasta um par de linhas analisando a roupa de marchands e destaca a atitude arrogante da repórter do "New York Times" que cobre mercado de arte.

PUREZA E MERCADO
Em tudo, Thornton parece ver um embate entre uma suposta pureza da arte e suas dimensões como instrumento de mercado e objeto de fetiche. Vai a Tóquio ver de perto o ateliê de Takashi Murakami, que descreve como uma enorme fábrica branca.

Não faz rodeios para dizer que "Oval Buddha", a escultura que vê sendo feita, é a obra mais cara do artista "com orçamento de um pequeno filme de Hollywood".

Seu livro, escrito antes da recessão global que arruinou o mercado da arte, reflete um momento de bonança e recordes nas feiras e leilões.

No próximo título, que deve mostrar a emergência de novas capitais do circuito, como São Paulo, ela se volta mais para os artistas -entrevistou, por exemplo, Nuno Ramos e Marilá Dardot, que estão na Bienal, e Iran do Espírito Santo e Carmela Gross.

"Há um interesse maior em arte contemporânea, nossas culturas estão mais orientadas por aspectos visuais", diz Thornton. "Para aqueles que não têm religião, existe um fascínio pela criação de significados, e a arte toma as dimensões de um deus."

sexta-feira, outubro 22, 2010

BIENAL DO CONCEITO E POUCO CONTEÚDO

Por Leonel Mattos, Artista plástico

Visitei a 29ª. Bienal de São Paulo a convite da sua patrocinadora a PETROBRÁS, para fazer uma leitura e participar do debate. Fui com a intenção de deixar que as obras me atraíssem pela sua força de expressão. Logo na entrada, várias pinturas em grandes dimensões do artista Rodrigo Andrade que atende os interesses intrínsecos da pintura, de boa qualidade com tons escuros revelando uma cidade noturna, e com o cheiro da tinta ativo notando ser uma obra recente. Na subida da rampa a pior obra do artista CARLOS BUNGA, uma instalação com colunas quadradas de 4 metros de altura feita de papelões pintados de branco na frente e no fundo no papelão cru com fitas adesivas aparentes que serviam de emendas para o mesmo, cheguei perguntar aos monitores se aquilo ali era uma obra? Em seguida uma instalação de blocos aparentes tipo uma caixa com várias colagens e portas como um ambiente de uma casa, muito ruim também! Algumas pinturas hiper-realistas muito boas, mas sem novidades dos artistas, KIMATHI DONKOR E AMAR BUNGA.

Os desenhos de GIL VICENTE também muito bons tecnicamente, mas o tema agressivo roubou a cena e errou quando simula a morte da vida principalmente de líderes. Poderia o artista Gil ter sido mais feliz protestando pregando o amor, despertando para o positivo, invertendo os valores e não revelando sua raiva de uma forma negativa, afinal a Bienal também é visitada por crianças, que se divertiam como se tivessem no Jardim Zoológico com a instalação do Nuno Ramos. Nuno cometeu um erro levando uma vida para dentro de um espaço inadequado, retirando do seu habitat, por mais que digam com a desculpa que o animal é de cativeiro. Assim dar margem para levarem um comedor de lixo e um mendigo para dentro da Bienal e o prender por um período para representar a realidade já desumana! A obra do Nelson Leirner esta sim me tocou pela força de sua expressão, onde colocou um porco empalhado viajando em cima de uma aeronave parecendo uma asa delta feita de madeira, pendurada no ar, invertendo os valores. Já o artista Ernesto Neto, não foi feliz na montagem de sua instalação, que parecia uma cobertura de um circo onde as crianças se divertiam bem.

A melhor obra da Bienal, em minha opinião, foi a de Henrique Oliveira, uma instalação penetrável de laminas de madeira com cores e volumes, como se estivesse entrando em uma vagina ou um útero, em forma de labirinto, muito boa, percebia seus valores, tanto externo quanto interno. As obras de Leonilson e Hélio Oiticíca deveriam ser expostas em uma sala especial para se fazer homenagem a artistas falecidos de boa qualidade, coisa que está faltando na Bienal. A de Cildo Meireles já não causou nenhuma surpresa, impacto, pois já a conhecia e não alterou muito. Muito boa as colagens de papéis do artista Marcelo Silveira e suas várias fotos estavam de boa qualidade. Entendo que o TEMA causou um desafio aos artistas e na maioria não se saíram bem, já que fugiram da sua produção atual. Em minha opinião os curadores deveriam deixar o TEMA LIVRE, para mostrar a verdadeira produção dos artistas, a que vem produzindo naturalmente e escolher a melhor obra para a representação, por que assim não seriam pegos de surpresa com o resultado da obra feito pelo tema. Pois, nem todo trabalho de um artista é uma grande obra, tem aquelas que se destacam mais.

No debate da Bienal, a convidada Professora da USP Vânia Rall, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância, da USP, o tema "Arte e ética: o uso e animais nas obras de arte", perguntei a ela se era a favor dos urubus permanecerem ali, ela respondeu que também não concordava, felizmente agora retiraram de vez os urubus, é sinal que o bom senso venceu, é uma prova que os curadores não foram felizes discordando do que era óbvio mais uma vez. O convite foi estendido a um grupo de artistas e produtores e um dos curadores Pedro França, um garoto, ficou tentando explicar Conceito que não correspondia o que as obras passavam uma invenção do que é do que não pode ser! Espero que na próxima Bienal não tenha TEMA e que acerte mais não colocando curadores e artistas ao ridículo. Um painel de Pintura da artista N S HARSHA muito boa com figuras de pessoas pequenas coloridas, mas pecou quando colocou em cima da pintura interferência com tinta preta parecendo alguma fumaça no painel, pensei que era até uma pixação por cima. Por falar em pixação, ficou a desejar os trabalhos dos pichadores, ficou sem representatividade já que reproduziram em folhas de papéis o que eles fazem na cidade. Os vídeos, uma coisa repetitiva, todos apresentados em uma caixa preta parecendo das novelas das seis, das sete e das oito, todos parecidos, não se conseguia identificar o autor. É isso aí, não se tem muita coisa para falar, muito trabalho que não diz nada, parecendo dever escolar. Obras com pouca representatividade que uma Bienal merece, espero que na próxima acertem e mostrem a verdadeira produção e seus artistas, por que esta ficou a desejar!