Por Evany Fanzeres - Artista Plástica
Mercadológico: você tem razão. É a palavra. E isso envolve uma premissa ética: o circuito cultural (ou institucional) não é o mesmo que o circuito de mercado. Nesta área todo cuidado é pouco. Não sou contra o mercado de arte, até pelo contrário. Porém uma Bienal não pode optar por arte "best seller'. Isso não existe.
Mas aqui o Ministério da Cultura "apoiou" a presença de obras de brasileiros em feiras de arte promovidas por galerias comerciais! E com direito a diplomatinhas "cultos" a defenderem seus protegés. Isso foi uma grande gaffe, e oficial! Tristeza. E que revela a total falta de tudo que assola este país, principalmente falta de informação, e empenho em acompanhar certas mudanças havidas no fim da década de 60 e anos 70. A Obra Aberta, de Eco, assim como textos de Barthes, Francastel, Lacan, e outros autores de resultados de investigação de linguagens, sobretudo artísticas foram publicados, Aconteceram congressos internacionais de CRÍTICA de ARTE, com importantes resoluções éticas. Aí a mercadologia reagiu, combatendo a crítica, e introduzindo nos circuitos os "curadores". Mas não dentro daquele conceito de curadoria que havia antes, com um Clarival, ou Mario Barata, Mário Pedrosa ou Harald Szeemann, e sim como forma de manipulação da produção artística. Contudo, mostras importantes como a Veneza e Kassel se aguentaram bem, porque , de certa forma, puderam entender, acompanhar as mudanças, e sobretudo contornar o caráter coercitivo das mesmas. Kassel, Veneza e outras mostras inbternacionais puderam contornar uma situação de origem política, sobretudo por haver uma ATITUDE com relação à arte. Basicamente é uma atitude de respeito e consciência. Porém aqui não conseguimos, porque a Bienal também não propôs uma posição.
A nossa Bienal teve chance de entrar na contemporaneidade há exatamente 39 anos. Mas não o fez, claro, senão não estaríamos diante de uma manifestação tão pouco séria, verdadeira falta de respeito para com a arte e com o público. Sei que excelentes colegas estão a participar, com suas propostas, mas o problema é o "como", e o conceito nulo desta bienal. Uma verdadeira salada. É tudo jogado ao público sem qualquer ordenação. Não conseguiram extrair um critério. Os críticos participantes são bons, mas desconhecem a produção artística existente.
A desculpa para o fracasso não é a exiguidade das verbas. Mas sim a ausência de percepção com relação a fenômenologia da arte. Curadores não buscam informação sobre a produção geral, ou o "what´s going on" na arte e portanto no psico-social da sociedade num sentido amplo. Nada sabem. Olham mas não vêem. São inteiramente diferentes daqueles críticos que apareciam em nossos atelieres para ver o que estávamos a produzir, frequentavam nossas reuniões, davam palestras. Amigáveis e humildes, eram super respeitados, e totalmente diferentes dos atuais curadores, muito ciosos por "aparecer" e aproveitar a Lei Rouanet. Títulos acadêmicos plurais não lhes reporta uma percepção do fenômeno artístico. Isto porque existe uma total incapacidade de leitura dos textos propostos nas propostas dos artistas.
Arte é linguagem que informa. Existem signos nas obras, desde a escolha do material de expressão como suporte da ideia, até a técnica e a forma plástica. Todos conhecemos a pintura O GRITO de Edward Munch. Ela nos reporta o que estava acontecendo. A meu modesto ver, a única Bienal de São Paulo que apresentou alguma intenção de unidade conceitual, foi aquela do Alfons Hug. Ele fez um trabalho muito limitado a uma visão (dele) de "sabio" naturalista do século XIX diante do trópico.Foi uma bienal muito fraca, porém honesta, dando recado (dele).