sábado, julho 17, 2010

A ARTE NÃO É INSTRUMENTO DE AGENDAS PESSOAIS OU COLETIVAS

Por Francisco Cribari: Economista e
Colecionador de Artes

Entendo que a ânsia de projetar uma imagem ou fantasia vanguardista, no Brasil e alhures, pode ser detrimental às artes plásticas. Mais: em geral o é. No momento em que se aceita que tudo é arte passa-se a aceitar, por corolário, que nada é arte. O compromisso primeiro da arte é -- e deve ser -- com a arte em si, ou seja, com o conteúdo artístico que projeta, com a estética que a define e -- importante -- a delineia e a delimita.

Arte sem limites não é arte; arte sem fronteiras não é arte. Em seu livro "What is Art?" o renomado escritor russo Leo Tolstoy nos brinda com a seguinte definição: "Art is that human activity which consists in one man's consciously conveying to others, by certain external signs, the feelings he has experienced, and in others being infected by those feelings and also experiencing them." A palavra operacional aqui é "feelings" (sentimentos).

Uma obra de arte é fundamentalmente uma projeção de sentimentos íntimos, conscientes ou não. A arte não é instrumento de agendas pessoais ou coletivas. Não pode vir a reboque de interesses. Ao permitir que ela seja usada como espada de alguma agenda, mesmo que sob mantos auto-adjetivados de varguardistas, comete-se o maior de todos os crimes: a eutanásia da arte. Esse é, em última instância, o preço a ser pago pela ausência de espinha por parte de muitos na defesa da fronteira artística. Arte que não tem fronteiras não é arte; é nada, é vácuo.

É assim que eu vejo.

É assim que eu entendo.