quarta-feira, julho 14, 2010
LANÇAMENTO - QUINTA, 15.07.2010
A POUCA REALIDADE :: Por Ferreira Gullar
BIENAL 2010
Por Ferreira Gullar
"Hoje em dia, o pessoal está confundindo a Bienal com o Fashion Week; uma coleção nova a cada seis meses".
Da fotografia do Pollock refeita com chocolate ao Lucio Fontana refeito com pigmentos, passando pelos retratos de confete, você repete o procedimento de representar/re-apresentar imagens/obras com materiais inusitados. Não teme que isso se torne repetitivo? Ou isso não importa?
VIK: A noção de “representar repetitivamente imagens conhecidas com materiais inusitados” é uma simplificação cruel e reducionista do meu trabalho. O mesmo seria simplificar a obra de Beatriz Milhazes à “persistentemente repetir padrões decorativos com tinta acrílica” ou a de Cildo Meireles como “esboçar questões sobre o sistema de valores se servindo de acumulações de objetos” Todo mundo quer reduzir o trabalho do artista a um resumo de uma linha, e quando conseguem, por subtração, omissão calculada ou por pura ignorância, acreditam ter o assunto como encerrado. Mondrian pintou quadrados quase uma vida inteira, Morandi, os mesmos potes, Ryman só telas brancas, e Flavin, só tubos fluorescentes. Hoje em dia, o pessoal está confundindo a Bienal com o Fashion Week; uma coleção nova a cada seis meses. Isso é uma cobrança fútil; o artista, ao longo da carreira, acumula estratégias e preocupações que revisita com frequência. Não existe nenhuma necessidade de se abandonar tais convicções, tanto porque, para o público cuja atenção curta requer uma sucessão ininterrupta de novidades, existe sempre a possibilidade de descobrir novos artistas. Uma das preocupações centrais do meu trabalho reside, sim, na relação entre o material e a imagem, na definição continua dessa ligação sublime entre o material e o mental. Isso tem sido uma pesquisa longa e engajada – e também completa, no sentido em que procurei esgotar em cada série todas as nuances e sutilezas que a situação propiciava. A escolha de trabalhar em séries também tem a ver com a criação de um modo de trabalho que possibilita uma evolução sutil. A cada obra de uma série é possível aplicar o conhecimento adquirido em obras seguintes. Eu não procuro realizar obras-primas ou revoluções em meu trabalho; eu vejo uma evolução discreta de pequenas ideias e conceitos que se alinham e se aprimoram. Pode parecer repetitivo dependendo da generosidade do espectador, mas cada trabalho lida com uma pequena ideia diferente.
"Eu me vejo bastante conservador, no sentido em que sempre estou procurando um sentido evolucionário, em vez de revolucionário, no plano do desenvolvimento da relação do ser humano com a imagem”
É quase consensual hoje que esse modelo das grandes Bienais está em crise.
Parte da entrevista de Luciano Trigo, Autor de A Grande Feira, uma investigação sobre o mundo e o submundo do mercado das artes. O jornalista Luciano Trigo fala sobre nós e mitos da arte e do mercado no país: “hoje não existem, fora do mercado, critérios para diferenciar uma obra boa de uma obra duvidosa”.
Por Leonardo Brant (Cultura e Mercado)
LB – Quais as suas expectativas em relação à Bienal de SP, prevista para o segundo semestre de 2010?
LT – Depois do fiasco da última Bienal, chamada de “Bienal do Vazio”, o que vier será lucro. Mas é quase consensual hoje que esse modelo das grandes Bienais está em crise. Em todo caso, a lista de artistas convidados já divulgada mostra que há uma valorização de nomes brasileiros dos anos 70, combinada com a presença de algumas estrelas internacionais, como Steve McQueen – cuja obra mais famosa é a reencenação de um trecho de um filme pastelão do Buster Keaton, uma grande bobagem que lhe valeu o Turner Prize, que aliás costuma premiar grandes bobagens. Também li que vão montar meia dúzia de terreiros no pavilhão, o que já é algo preocupante. Por fim, um dos curadores declarou numa entrevista que essa Bienal será um laboratório para algo que ele ainda não sabe direito o que é. Essa declaração é muito reveladora do atual estado das coisas.
29ª Bienal de São Paulo
Essa impossibilidade se expressa no fato de que a arte, por meios que lhes são próprios, é capaz de interromper as coordenadas sensoriais com que entendemos e habitamos o mundo, inserindo nele temas e atitudes que ali não cabiam e tornando-o, assim, diferente e mais largo.
A eleição desse princípio organizador do projeto curatorial se justifica por duas principais razões. Em primeiro lugar, por viver-se em um mundo de conflitos diversos, onde paradigmas de sociabilidade são o tempo inteiro questionados, e no qual a arte se afirma como meio privilegiado de apreensão e simultânea reinvenção da realidade. Em segundo lugar, por ter sido tão extenso esse movimento de aproximação entre arte e política nas duas últimas décadas, se faz necessário, novamente, destacar a singularidade da primeira em relação à segunda, por vezes confundidas ao ponto da indistinção.
É nesse sentido que o título dado à exposição, “Há sempre um copo de mar para um homem navegar" – verso do poeta Jorge de Lima tomado emprestado de sua obra maior, Invenção de Orfeu (1952) –, sintetiza o que se busca com a próxima edição da Bienal de São Paulo: afirmar que a dimensão utópica da arte está contida nela mesma, e não no que está fora ou além dela. É nesse “copo de mar” – ou nesse infinito próximo que os artistas teimam em produzir – que, de fato, está a potência de seguir adiante, a despeito de tudo o mais; a potência de seguir adiante, como diz o poeta, “mesmo sem naus e sem rumos / mesmo sem vagas e areias”.
Por ser um espaço de reverberação desse compromisso em muitas de suas formas, a mostra vai pôr seus visitantes em contato com maneiras de pensar e habitar o mundo para além dos consensos que o organizam e que o tornam ainda lugar pequeno, onde nem tudo ou todos cabem. Vai pôr seus visitantes em contato com a política da arte.
A 29ª Bienal de São Paulo pretende ser, assim, simultaneamente, uma celebração do fazer artístico e uma afirmação de sua responsabilidade perante a vida; momento de desconcerto dos sentidos e, ao mesmo tempo, de geração de conhecimento que não se encontra em nenhuma outra parte. Pretende, por tudo isso, envolver o público na experiência sensível que a trama das obras expostas promove, e também na capacidade destas de refletir criticamente o mundo em que estão inscritas. Enfim, oferecer exemplos de como a arte tece, entranhada nela mesma, uma política.
Equipe Curatorial
Com curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, a 29ª Bienal de São Paulo conta, ainda, com um grupo de curadores convidados de procedências diversas, os quais contribuem para que o projeto tenha amplitude e densidade compatível com a vocação internacional que a instituição possui desde sua origem, são eles: Fernando Alvim (Angola), Rina Carvajal (Venezuela / Estados Unidos), Yuko Hasegawa (Japão), Sarat Maharaj (África do Sul / Reino Unido) e Chus Martinez (Espanha).
O Lugar e o Tempo da Mostra
A exposição contará com cerca de 145 artistas de diversas partes do mundo, sem tomar a origem territorial como valor de seleção. Nesse sentido, reafirma-se a abolição das chamadas representações nacionais, traço característico da Bienal de São Paulo até poucos anos, mas que não mais traduz a complexa rede de migrações e de trânsitos que marca a vida contemporânea. É importante para a 29ª Bienal de São Paulo, porém, enfatizar o lugar e o tempo a partir dos quais ela é organizada: desde o Brasil e desde um momento de rápida reorganização geopolítica do mundo.
Bienal Estendida
O projeto aqui anunciado não se esgota na apresentação de um conjunto articulado de obras, embora este seja, é evidente, seu núcleo e seu lugar de destaque. Tampouco se comprime apenas nas datas em que a exposição estará aberta. A 29ª Bienal de São Paulo se estenderá a várias outras partes, e começa desde agora. Por meio de seu programa educativo, de atividades discursivas, de residências artísticas e de seu website, ela se afigura como um projeto múltiplo que aposta na arte como forma de conhecer e mudar o mundo de uma maneira única.
Lista Oficial dos Artistas das 29ª Bienal de São Paulo
Calendário
20 de setembro - Preview
das 9 às 17h (Imprensa)
21 de setembro - Preview
das 9 às 17h (Imprensa)
19h: pré-abertura para convidados institucionais, meio artístico, entre outros.
22 a 24 de setembro
19h: Convidados dos patrocinadores
22 e 23 de setembro
Manhã e tarde: Professores (Programa Educativo)
25 de setembro
10h: Abertura oficial da 29ª Bienal de São Paulo
12 de dezembro
Encerramento da 29ª Bienal de São Paulo
Horários de funcionamento
De 2ª a 4ª feira: das 9 às 19h.
5ª e 6ª feira: das 9 às 22h.
Sábado e domingo: das 9 às 19h.