sexta-feira, novembro 26, 2010

A Exposição "Sensation", de 1997, e a Bienal de São Paulo. Por: Plínio Palhano

Por: Plínio Palhano //Artista Plástico para o Diario de Pernambuco :: 26.11.2010

A exposição Sensation, realizada em 1997 na Royal Academy of Arts, em Londres, reunindo a geração dos Young Bristish Artists - YBAs, foi organizada por um bem sucedido empresário da publicidade - Charles Saatchi, que se tornou um dos mais importantes marchands e proprietário da Saatchi Gallery, especializada em arte contemporânea e a principal interessada em colocar artistas no topo do mercado e da publicidade nas grandes metrópoles. O mote da Sensation? A mistura de erotismo, violência, vulgaridade e humor grotesco.

Entre as obras, estava um retrato da serial killer Myra Hindley, num painel de 4 x 3,5 m que reproduzia a foto policial divulgada pela imprensa, na década de 1960, à procura da assassina de crianças. O autor, Marcus Harvey, intitulou a obra de Myra, e os pixels da foto, excessivamente ampliada, tinham a forma de mãos de criança, mas ele, talvez para se precaver de reações penais, teve o cuidado de informar que aquelas mãos eram reproduzidas por moldes, e não por seres inocentes.

Outro artista, Marc Quinn, realizou a obra Self, uma escultura de sua cabeça, moldada em 4,5 litros do seu próprio sangue, congelada e colocada num cubo refrigerado para transmitir a sensação de vida e morte, como uma máscara mortuária produzida pela força do sangue - vida e morte simultaneamente.

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Marc Quinn, "Self", 1990

A grande estrela do evento foi Damien Hirst, que esquartejou animais com precisão, apresentando-os em tanques, imersos em formol. Inicialmente foram ovelhas, porcos e vacas. Nas séries posteriores, vieram os tubarões.

A Royal Academy, como instituição tradicional, abriu uma seção reservada para maiores de 18 anos, porque ali estavam os manequins de Jake e Dinos Chapman, apresentados explorando taras sexuais e apelos ao grotesco. Eram inocentes xifópagos amontoados em posições diversas, que apresentavam pênis no lugar das narinas e ânus no da boca.

O público mordeu a isca da suposta provocação, agredindo pessoas e obras presentes na mostra e pedindo o fechamento da exposição; uma verdadeira moeda de recompensa para o organizador, que estava ´antecipando` os lucros promovidos pela ignorância daquele público que consolidava o tão almejado escândalo. E assim aconteceu: só um dos tubarões de Damien Hirst foi vendido, posteriormente, por 12 milhões de dólares!

Essa exposição foi uma das mais representativas do pensamento da arte nas últimas décadas, influenciando centros culturais considerados de Primeiro Mundo e da periferia. Nesse sentido, a Bienal de São Paulo não foge à regra: recebeu, após anos, os reflexos da proposta de Sensation, propondo-se também a escandalizar, e o público reage em protestos, premiando os curadores e protagonistas, possibilitando enorme publicidade, com a pretensão de lucros futuros, e alimentando o permanente vazio de conceitos na arte. 

domingo, novembro 21, 2010

FERREIRA GULLAR - Arte sem arte

Considero uma piada achar que todas as pessoas têm o mesmo talento artístico de Da Vinci e de Van Gogh

Por: Ferreira Gullar :: Folha de SP, 21.11.2010


NÃO TENHO a pretensão de estar sempre certo no que escrevo, nas opiniões que emito, muito embora acredite seriamente nelas. Não foi à toa que, de gozação, me apelidaram de profissional do pensamento, por tanto atazanar os amigos com minhas indagações e tentativas de explicação. Por isso também volto a certos temas, desde que descubra, ao repensá-los, modos outros de enfocá-los e entendê-los.

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Imagem para o projeto "Centro Popular de Cultura da UNE - Encontros e desencontros entre asrte, politica e educação " -de Ana Carolina Caldas.

Se há um tema sobre o qual estou sempre indagando é a situação atual das artes plásticas, precisamente porque exorbitaram os limites do que -segundo meu ponto de vista- se pode chamar de arte. Sei muito bem que alguém pode alegar que arte não se define e que toda e qualquer tentativa de fazê-lo contraria a natureza mesma da arte.

Esse é um argumento ponderável e muito usado ultimamente, mas acerca do qual levanto dúvidas. Concordo com a tese de que arte não se define, mas não resta dúvida de que, quando ouço Mozart, sei que é música e, quando vejo Cézanne, sei que é pintura. Logo, a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de definir o que é arte não elimina o fato de que as obras de arte têm qualidades específicas que as distinguem do que não o é.

Do contrário, cairíamos numa espécie de vale-tudo, numa posição insustentável mesmo para o mais radical defensor do que hoje se intitula de arte contemporânea. Isto é, o sujeito teria de admitir que uma pintura medíocre tem a mesma qualidade expressiva que uma obra-prima e que ele mesmo teria de se obrigar a gostar indistintamente de toda e qualquer coisa que lhe fosse apresentada como arte. Por mais insensato que possa ser alguém na defesa de uma tese qualquer, não poderia evitar que esta ou aquela coisa que vê ou ouve ou lê tenha a capacidade maior ou menor de sensibilizá-lo, emocioná-lo ou deixá-lo indiferente.

Creio não haver dúvida de que, seja ou não possível definir o que é arte, há coisas que nos emocionam ou nos fascinam ou nos deslumbram e outras que nos deixam indiferentes. Se se der ou não a tais coisas a qualificação de arte, pouco importa: é inegável que a "Bachiana nº 4" é belíssima e que um batecum qualquer não se lhe compara, não nos dá o prazer que aquela obra de Villa-Lobos nos dá. Do mesmo, um desenho de Marcelo Grassmann me encanta e um desenho medíocre me deixa indiferente. Mas um artista conceitual -ou que outras qualificação se lhe dê- responderá que esta visão minha é velha, ultrapassada, pois ainda leva em conta valores estéticos, enquanto a nova arte não liga mais para isso. Mas pode haver arte sem valor estético? Arte sem arte? Essa pergunta me leva à experiência radical de Lygia Clark (1920-1988), sob muitos aspectos antecipadora do que hoje se chama arte conceitual.

Dando curso à participação do espectador na obra de arte -elemento fundamental da arte neoconcreta-, chega à conclusão de que pode ele ir além, de espectador-participante a autor da obra, bastando, por exemplo, cortar papel ou provocar em si mesmo sensações táteis ou gustativas. Assim atingimos, diz ela, o singular estado de arte sem arte. De fato, esse rumo tomado por alguns artistas resultou da destruição da linguagem estética e na entrega a experiências meramente sensoriais, anteriores portanto a toda e qualquer formulação. Descartando assim a expressão estética, concluíram que se negar a realizar a obra é reencontrar as fontes genuínas da arte. E, se o que se chama de arte é o resultado de uma expressão surgida na linguagem da pintura, da gravura ou da escultura, buscar se expressar sem se valer dessa linguagem seria fazer arte sem arte ou, melhor dizendo, ir à origem mesma da expressão. Isso nos leva, inevitavelmente, a perguntar se toda expressão é arte. Exemplo: se amasso uma folha de papel, o que daí resulta é uma forma expressiva; pode-se dizer que se trata de uma obra de arte? Se admito que sim, todo mundo é artista e tudo o que se faça é arte.
Já eu considero uma piada achar que todas as pessoas têm o mesmo talento artístico de Leonardo da Vinci e de Vincent van Gogh ou que esse talento seja apenas mais um preconceito inventado pelos antigos. As pessoas são iguais em direitos, mas não em qualidades.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Bienal de SP continua na UTI

Por Ivald Granato

Bienal mesmo gratuita e com verba de 6M para atrair pessoas, só na parte educativa com direito a lanche, não consegue decolar. O boca-a-boca da opinião pública esvaziou a Bienal.

Não gosto de chutar cavalo morto, mas fica impossível não comentar as mais recentes noticias da 29a. Bienal de São Paulo. O presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Sr. Heitor Martins, declarou ontem à Fabio Cypriano da Folha, http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/827542-bienal-tera-45-menos-visitantes-do-que-o-esperado.shtml, que a Bienal poderá ter 45% menos visitantes do que o esperado. O motivo alegado foi a falta de planejamento quanto à logística para levar 400 mil estudantes. Faltou ônibus, disse ele. Logo em seguida, alega que foi o tempo ruim em São Paulo e a ausência de ícones modernos que possam atrair um maior publico.

A primeira justificativa depõe não apenas contra o óbvio - a falta de organização da Bienal - mas principalmente contra a capacidade de planejamento do seu presidente - estranho isso por ele goza do status de sócio-diretor de uma das mais poderosas empresas de consultoria internacional. Já a segunda justificativa, “O Tempo”, acho que nem merece comentários; ao passo que a alegação da falta de ícones modernos depõe contra a própria curadoria, o que não nos traz nenhuma novidade. Sempre soubemos da falta de pesquisa e critérios compatíveis de seleção para uma Bienal do porte da nossa.

Os organizadores também alegam que deixaram ações mais agressivas de marketing para esta reta final. Não vou me admirar se a qualquer hora ler que estão lançando a Bolsa Bienal – um troco e mais lanchinho – para atrair um maior numero de visitantes. Vamos e convenhamos, a Bienal não vai deixar de ser o fracasso que vem sendo pelo fato de se conseguir ônibus para levar meio milhão de alunos, que mais estão curtindo o passeio do que propriamente interessados na Bienal, nem tão pouco se São Pedro vai manerar na carga de chuva. Só espero que não digam ser rixa de São Pedro com São Paulo. Por favor, vamos parar com essa herança doentia de maquiar a verdade com números fictícios que não levam a nada. Querer ser maior do que A ou B, ultrapassar números e esquecer o conteúdo não leva a lugar algum. O que isso agrega? Nada. Vamos focar no objetivo maior e o que vem na seqüência passa a ser conseqüência.

Quero deixar claro que promover programas educativos para alunos vem a ser uma ação louvável e que não deveria acontecer apenas a cada dois anos para fazer número na Bienal. Deve ser uma ação continua. Uma coisa eu garanto, se a Bienal fosse formatada na verdadeira função de uma Bienal, o interesse começaria na outra ponta. Vamos nos perguntar: O que de fato motivaria educadores a levar meio milhão de alunos a visitar esta Bienal? Que obra, que conceito, e qual visão passa a ser de fato educativa, a não ser a própria ação Isolda?. Uma ação inócua que nada acrescenta não motiva ninguém, e ainda planta a semente que Bienal não leva a nada. Um desserviço de fato.

segunda-feira, novembro 08, 2010

A Bienal e os "Arubus".

Por Caciporé Torres

Muito espalhafato, vulgarização e POUCA ARTE.
Tudo com a conivência do seu presidente e dos curadores - "genios" - não confundir com os críticos de arte.

A Bienal, que já foi a 2ª maior Exposição do Mundo, hoje é mostra de excentricidade vulgar, ridicularias e marketing barato. Pergunto :

Onde estão os grandes artistas brasileiros
com mais de 30 anos de trabalho contínuo?

Onde estão nossos críticos de ARTE que visitavam os ARTISTAS Profissionais e também através de seleção davam oportunidades aos novos valores?

Senhores "donos" da Bienal, com a Bienal vazia, ela a cabou. Os Senhores sa atual, a destruiram e a enterraram.

Meus pesames.

Caciporé Torres