Pelo Mapa das Artes - Celso Fioravante
Editorial
O discurso da curadoria sobre o "pixo" na 29ª do evento, em setembro, mudou um pouco depois que o assunto conseguiu sua capa na "Ilustrada" e algumas linhas críticas no editorial do Mapa das Artes de maio-junho. Em 15 de abril, o curador Moacir dos Anjos afirmou na "Ilustrada" que "pixo é política e é arte". Em 2 de junho, a mesma "Ilustrada" publicou declaração do curador Agnaldo Farias, em que ele disse "Achamos que o trabalho deles é político, mas não sabemos se é arte". De toda forma, a curadoria disse ainda que os pichadores não irão pichar nada na Bienal, mas serão apresentados em filmes, fotos e debates. Ah bom!
Eu continuo afirmando que picho (com ch ou x) é vandalismo, mas concordo totalmente com o editorialista da "Folha de S. Paulo" Fernando Barros e Silva, que em 19 de abril finalizou seu texto "O X da questão" com a frase "Os pichadores não precisam de Bienal, mas de família, escola e uma perspectiva de vida decente". Para quem não é assinante da Folha ou do UOL, o texto está reproduzido na seção Notícias do site Mapa das Artes.
O Mapa das Artes, aliás, chega agora à sua 50ª edição! Acredito que jamais na história desse país um veículo totalmente dedicado às artes plásticas tenha tido uma vida tão longa! Que continue assim, sempre cheio de informações e crítico às maracutaias e falcatruas que, vira e mexe, assombram o circuito e iluminam o submundo das artes neste país!
Eu acho que nos últimos tempos muito se tem feito para "aprimorar" a terminologia das espécies de arte. Com isso, ao meu ver, acaba reinando uma certa confusão. Por exemplo, desde há séculos, existe a pintura mural. Aí inventaram o grafitti, o pixo, o isto e aquilo. Desde há tempos existe a escultura, aí inventaram a arte objeto, a assemblage, etc. O que seria uma instalação, se não uma cenografia, ou uma escultura em que se pode entrar? E o que seria uma performance, se não o teatro? O resultado dessa "riqueza" de terminologia é que a discussão passa a ser "pixo é arte ou não", "performance é arte ou não", "instalação é arte ou não", etc. São discussões, no meu entender, fora de foco. O que pode definir uma obra especifica como arte é sua qualidade estética intrínseca, não se é classificada como pixo, grafitti, performance, etc. Os homens das cavernas faziam pinturas maravilhosas, e não se inibiam em fazer uma em cima da outra. Hoje, pintar (ou pixar) em cima de obras anteriores não faz sentido, visto que não somos homens das cavernas. Mas daí condenar o "pixo em geral" como vandalismo vai uma grande distância. Não vejo sentido em preferir uma parede de concreto de viaduto sem pixo (mas freqüentemente suja, sempre cinza, não raro rodeada de lixo e repleta de cartazetes das mais variadas ofertas comerciais e políticas) do que outra "pixada", ainda que a qualidade desse pixo não seja lá essas coisas. Se é para usar o espaço público para cada um (empresa, político, governo que não cuida desse espaço, lixeiro ilegal que lá deposita lixo, etc.) deixar lá sua "mensagem", prefiro que esse espaço seja franqueado à população (pessoas físicas) em geral. Pelo menos é mais democrático.
ResponderExcluirTalvez seja importante diferenciar pixação, que são aquelas escritas indecifraveis em lugares impossiveis do grafite que é a manifestação artistica genuína de um universo alternativo.
ResponderExcluirSugerir que este ou aquele artista precisa de familia e escola é no mínimo preconceituoso. Vilipendia o direito de expressão artistica pela imposição de uma classificação limitante que põe em duvida o caracter legitimo do grafite dentro da arte. Nega asilo a expressão e impede sua manifestação.
Na verdade não é muito difícil diferenciar pixadores de grafiteiros, é so observar sua mensagem, mas como sempre misturar os bons com os maus parece mais politicamente estrategico.