MEU OURINOL DE OURO
por Octaviano Moniz
De volta às letras. Elas me querem. Mas causam uma confusão infernal . Sobre? Arte é meu prato principal, sem espinhas, please e garfos de peixe. Sou snob. Como todo bom artista. Não sofro da síndrome de Fabiano de Vidas Secas que sabia ser um animal. De quatro patas. Por hora tenho duas e uma língua quilométrica. Ontem no almoço,minha mãe, poliglota e culta, soltou a seguinte pérola: ”arte é para decorar”. Ativou meus neurônios e tentei explicar pela Teoria da Formatividade de Pareyson que ia mais além. Perda de tempo. E ela é antenadésima em design e moda, curte as tendências da moda e sabe que uma coleção de Dior envelhece rápido. Pois bem,assim é com a arte,o século XX veio a galope, as vanguardas se sucederam e hoje vivemos num pós tudo onde o conceito às vezes é mais relevante que a obra. O conhecimento antes da expressão. O pior é que ela não está só aqui na Bahia,onde habito por ora, as galerias e decoradores se esmeram para achar quadros que façam pendant com as cortinas. Esculturas só de orixás para proteger a casa e seus rebentos. Vivemos ainda numa época pré-impressionista quando com o advento da maquina fotográfica o caráter de retratar o real perdeu a razão de ser. Aqui não, o importante é a paleta de cores do pintor e o colecionador chega e pede um quadro verde que combine com seu papel de parede. Os artistas ainda estão coibidos de colocar suas impressões na tela, o que ocorreu em 1890 na Europa, isto como diria Hitler é uma arte de degenerados, temos que ser fieis ao real. A fotografia é um hobby. Mega empresários saem em busca das perolas da arte acadêmica baiana. Enquanto Picasso estava devorando tudo com o cubismo,os artistas baianos, que chegaram a viajar ao velho continente se esmeravam em ser uma maquina fotográfica, made in China. Qualidade zero. As galerias da boa terra promovem leilões suntuosos,com salmão e whisky 18 anos. Acredito se algum estrangeiro que freqüente o circuito das artes entrar pense ter entrado no tunel do tempo e vai surtar. Artistas brsileiros como Helio Oiticica, Ligia Clarck, Ligia Pape,ou mesmo Beatriz Milhazes e Eduardo Berliner alcançam cifras que somado o total do leilão não chegam perto. Cada dia mais a arte neo concreta carioca é estudada e valorizada, exposta em museus de todo o mundo, mas escondida pelos marchands locais para não perderem suas viagens de navio de fim de ano, nem as temporadas de ski. Até quando eles conseguirão enganar estes colecionadores? O que me causa espécie é que muitos viajam muito, será que não freqüentam a Saatchi Gallery, a Gagosian, O PS1 em NY, o Beaubourg em Paris e outras mecas da arte? Os artistas locais tem que se adequar e se quiserem ter vida boa tem que pintar com tons pasteis, aceitar encomendas que combinem com o vaso sanitário e fazer pintura decorativa. Por isso não tivemos nenhum artista chamado para a Bienal de Sampa 2010, nem no Prêmio PIPA-MAM-RJ. Goebbels ministro da Comunicação de Hitler dizia que uma mentira dita varias vezes vira verdade. É o que fazem estes marchands, com um olho no quadro decorativo outro na pista de ski de Aspen. E o colecionador? Leva seu objeto de decoração para casa,como um abatjour,ou um ourinol,Sem o sentido Duchampiano. A arte baiana é controlada por uma máfia de poucas galerias que como papagaios treinados e bem trajados dizem; ”Oh, está lindo, vai ficar um luxo com seu tapete persa”. Desculpem, vou procurar meu ourinol e fundar a arte conceitual na Bahia.............Plagio? Pense num absurdo, já aconteceu na Bahia.