terça-feira, setembro 21, 2010

MITOS VADIOS 2 :: CARPE DIEM :: SEIZE THE DAY

H O J E
21/09/2010 A PARTIR DAS 17H
CALÇADÃO E GRAMADO PÚBLICOS EM VOLTA DA BIENAL.
A BIENAL É NOSSA, DO POVO. O VERDADEIRO ESPÍRITO DAS ARTES ESTARÁ DO LADO DE FORA :: HOJE, A PARTIR DAS 17:00H.

sábado, setembro 18, 2010

A ARTE VAI PARA UM LADO E O MERCADO VAI PARA O OUTRO

Por Leonel Mattos (BA) - Artista plástico e curador
http://leonelmattos.blogspot.com

Quando mudei para São Paulo na década de 80, fui à procura de um polo mais ativo culturamente, onde as coisas acontecessem. Na época não tinha a net e a única opção era nos deslocarmos. E em SAMPA as coisas realmente aconteciam, meu trabalho logo ganhou outra dimensão. Quando percebi que as "panelas" de interesses mercadológicos existiam, resolvi voltar para a Bahia, cuidar da minha obra e da minha raiz pois o meu interesse era outro, era discutir os interesses da arte! Tínhamos críticos sérios naquela época, posso citar vários, como Olivio Tavares de Araujo, Olney Cruse, Federico de Morais, Ferreira Gullar, Theon Spanudes, Mario Shemberg e muitos outros, voltados para a chamada Arte Brasileira, artistas que tinham singularidades e pluralidades em suas obras! A partir daí começaram a surgir críticos que olhavam mais para o que estava sendo produzido na Europa, e começaram a selecionar e influenciar em Salões Oficiais, artistas que tinham esta tendência, e se perdeu a nossa identidade, a arte ficou como "dever" escolar! Chegaram até a dizer que o Iberé Camargo era o pai do expressionismo brasileiro! As galerias por sua vez, fechadas para os novos artistas, abriam excessão apenas para aqueles que se destacavam em Salões ou eram indicados por algum crítico, sempre buscando os interesses financeiros. E assim ajudaram a chegar onde nos chegamos, a um esmagamento cultural!

Vou participar da MANIFESTAÇÃO MITOS VADIOS II por acreditar nos interesses do artista e sua produção! Por esse mesmo motivo, provoquei na FEIRA DE SÃO JOAQUIM-BAHIA, uma mostra coletiva onde a arte se destacou por sí só, em meio a verduras e uma infinidade de informações, assumindo o seu papel. Entendo que um objeto qualquer estando no seu espaço especifico como o Museu ou a Galeria, já ganha 70% de status de arte, tornando-se duvidoso.
É preciso abrir mais espaços alternativos para mostrar realmente a produção do Brasil, talvez uma Bienal de Brasileiros, mas com interesses na produção, diferenciando do que é dever escolar e isento de alguns ratos de porão!

segunda-feira, setembro 13, 2010

Morre em São Paulo o artista plástico Wesley Duke Lee

Veja - 13.09.2010

Morre em SP o Artista Plástico Weslei Duke Lee
Lee causou frisson nos anos 1960 e 1970 com seus happenings e fundou a galeria Rex

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Wesley Duke Lee diante de quadros de sua coleção particular e ao lado do gato Tik, em sua casa em Santo Amaro.

Wesley Duke Lee diante de quadros de sua coleção particular e ao lado do gato Tik, em sua casa em Santo Amaro. (Fernando Moraes/Dedoc)

Morreu ontem o pintor brasileiro Wesley Duke Lee, aos 78 anos, em São Paulo. Lee ficou conhecido nos anos 1960 por promover os primeiros happenings no Brasil, performances que reuniam vários intelectuais, jornalistas e boêmios com exibição de vídeos, mostras de fotografias e telas, além de lançamentos de livros e poemas.

Neto de americanos, Duke Lee cursou desenho livre no MASP, o Museu de Arte de São Paulo, em 1951, e depois na Parson’s School of Design e no American Institute of Graphic Arts, duas conceituadas escolas de arte dos Estados Unidos, em 1952. Ele foi um dos pioneiros da Pop Art no Brasil, além de ter realizado trabalhos como o fotógrafo Otto Stupakoff e os artistas Bernardo Cid e Pedro Manuel Gismondi. Viveu na Áustria e na França antes de retornar a São Paulo.

Duke Lee foi um dos fundadores do movimento Realismo Mágico, inspirado na Semana de Arte Moderna de 1922, e do movimento Rex, que incluía uma galeria de arte de mesmo nome e um jornal chamado Rex Time, sobre artes plásticas. Provocador, se ofereceu como voluntário para testes de LSD numa clínica em 1964. A aventura rendeu uma série de telas com reflexões políticas.

Ele, que sofria há três anos do mal de Alzheimer, morreu de parada cardíaca. Os direitos de sua obra estão sob a guarda de sua sobrinha Patrícia Lee e o acervo sob tutela dos marchands Ricardo Camargo, em São Paulo, e Max Perlingeiro, no Rio de Janeiro. Uma cerimônia aberta ao público de despedida será realizada no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, às 16h desta terça-feira (14).

Confira aqui uma galeria de imagens do artista e de seus trabalhos

domingo, setembro 12, 2010

Uma Bienal não pode optar por arte "best seller'. Isso não existe.

Por Evany Fanzeres - Artista Plástica

Mercadológico: você tem razão. É a palavra. E isso envolve uma premissa ética: o circuito cultural (ou institucional) não é o mesmo que o circuito de mercado. Nesta área todo cuidado é pouco. Não sou contra o mercado de arte, até pelo contrário. Porém uma Bienal não pode optar por arte "best seller'. Isso não existe.

Mas aqui o Ministério da Cultura "apoiou" a presença de obras de brasileiros em feiras de arte promovidas por galerias comerciais! E com direito a diplomatinhas "cultos" a defenderem seus protegés. Isso foi uma grande gaffe, e oficial! Tristeza. E que revela a total falta de tudo que assola este país, principalmente falta de informação, e empenho em acompanhar certas mudanças havidas no fim da década de 60 e anos 70. A Obra Aberta, de Eco, assim como textos de Barthes, Francastel, Lacan, e outros autores de resultados de investigação de linguagens, sobretudo artísticas foram publicados, Aconteceram congressos internacionais de CRÍTICA de ARTE, com importantes resoluções éticas. Aí a mercadologia reagiu, combatendo a crítica, e introduzindo nos circuitos os "curadores". Mas não dentro daquele conceito de curadoria que havia antes, com um Clarival, ou Mario Barata, Mário Pedrosa ou Harald Szeemann, e sim como forma de manipulação da produção artística. Contudo, mostras importantes como a Veneza e Kassel se aguentaram bem, porque , de certa forma, puderam entender, acompanhar as mudanças, e sobretudo contornar o caráter coercitivo das mesmas. Kassel, Veneza e outras mostras inbternacionais puderam contornar uma situação de origem política, sobretudo por haver uma ATITUDE com relação à arte. Basicamente é uma atitude de respeito e consciência. Porém aqui não conseguimos, porque a Bienal também não propôs uma posição.

A nossa Bienal teve chance de entrar na contemporaneidade há exatamente 39 anos. Mas não o fez, claro, senão não estaríamos diante de uma manifestação tão pouco séria, verdadeira falta de respeito para com a arte e com o público. Sei que excelentes colegas estão a participar, com suas propostas, mas o problema é o "como", e o conceito nulo desta bienal. Uma verdadeira salada. É tudo jogado ao público sem qualquer ordenação. Não conseguiram extrair um critério. Os críticos participantes são bons, mas desconhecem a produção artística existente.

A desculpa para o fracasso não é a exiguidade das verbas. Mas sim a ausência de percepção com relação a fenômenologia da arte. Curadores não buscam informação sobre a produção geral, ou o "what´s going on" na arte e portanto no psico-social da sociedade num sentido amplo. Nada sabem. Olham mas não vêem. São inteiramente diferentes daqueles críticos que apareciam em nossos atelieres para ver o que estávamos a produzir, frequentavam nossas reuniões, davam palestras. Amigáveis e humildes, eram super respeitados, e totalmente diferentes dos atuais curadores, muito ciosos por "aparecer" e aproveitar a Lei Rouanet. Títulos acadêmicos plurais não lhes reporta uma percepção do fenômeno artístico. Isto porque existe uma total incapacidade de leitura dos textos propostos nas propostas dos artistas.

Arte é linguagem que informa. Existem signos nas obras, desde a escolha do material de expressão como suporte da ideia, até a técnica e a forma plástica. Todos conhecemos a pintura O GRITO de Edward Munch. Ela nos reporta o que estava acontecendo. A meu modesto ver, a única Bienal de São Paulo que apresentou alguma intenção de unidade conceitual, foi aquela do Alfons Hug. Ele fez um trabalho muito limitado a uma visão (dele) de "sabio" naturalista do século XIX diante do trópico.Foi uma bienal muito fraca, porém honesta, dando recado (dele).

sábado, setembro 11, 2010

BIENAL DE SÃO PAULO: UM MORTO BARULHENTO

Por Adriano de Aquino
Reedição ampliada do texto: BIenal de São Paulo - Um morto barulhento - de 04/10/2006/HiperBlog

Nunca um texto de 4 anos atrás enquadra-se tão bem à realidade atual. Adriano de Aquino brilhantemente relata o definhamento das Bienais ao longo dos últimos 20 anos. Quando muito, elas provocam uma sensação frustrada de Déjà vu. Tentar inovar sem considerar as mudanças sociais e tecnológicas, que também afetam o cenário artístico, é no mínimo uma infantilidade. As razões muitas vezes apresentadas seriam exatamente aquelas que justificariam a busca de um novo formato. No entanto, sabemos que as verdadeiras razões é, de fato, o continuísmo do uso da instituição por grupos que insistem em manipular o mercado em benefício próprio. (FFA)

Controvérsias reaparecem a cada nova edição da Bienal São Paulo. Elas se originam do esgotamento das formas de amostragem de arte, conceituação e modelo de gestão dos grandes eventos. Muitos afirmam que as mega-exposições há muito deixaram de ser um elo ativo entre a pluralidade das experiências estéticas e o publico. Essas opiniões coincidem com os protestos de vários grupos contra a investida mercantil sobre os produtos artísticos, associados a esse tipo de evento.

Críticos das feiras de arte e das grandes mostras internacionais focam suas ofensivas sobre os métodos do marketing cultural que enfiou turismo, antropologia, divertimento, arte e cultura num mesmo saco, melhor dizendo, num mesmo ambiente refrigerado e lacrado contra ruídos da cultura contemporânea que acontecem do lado de fora.

As grandes mostras tornaram-se paquidermes em processo de desintegração. Os curadores investem sobre o que resta de orgânico num material em decomposição.

As sucessivas mudanças artísticas, provenientes, entre outras coisas, da dinâmica da era dos meios eletrônicos, expandiram consideravelmente as formas de expressão. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que a variedade de informações hoje disponibilizadas, produziu um enorme impacto na vida social. Acreditar que a criação artística ficou imune, protegida no casulo da genialidade criativa é tolice. Para quem enxerga para além da propaganda o que se evidencia na manutenção do velho sistema é uma estratégia que beneficia grupos de interesses mercantis e econômicos.

Porém, os curadores não vêem isso e se prontificam a salvar os restos mortais da instituição reabilitando-a como uma espécie de zumbi transglobal.

Será que acreditam poder voltar no tempo e nos surpreender, reeditando as polêmicas bienais dos anos 60 e 80?

A Bienal de Veneza de 1980, que serviu de vitrine à versão de Charles Jencks para o pós-modernismo, decretou o fim desse modelo de exposição. Essa Bienal foi o último elo de ligação efetivo das grandes mostras com as questões mais radicais da arte e que teve como resposta o entusiasmo do público.

Como esse fato histórico não é uma advertência contra a mesmice, o publico é coagido a assistir as repetições infindáveis do mesmo show, com pequenos cortes particulares. Lamentavelmente, mais medíocres.

Os cientistas, em coro com alguns artistas, acham melhor isso do que nada.

Francamente, sem querer estragar a festança nem sujar a vitrine, prefiro o nada. É mais estimulante.

Se o sopro criativo dos curadores, ou melhor, dos atuais “cientistas da criatividade” conseguisse superar os feitos do passado marcando uma diferença crucial com o sistema de arte dominante eu não seria tão incrédulo. Porém, não é o que vemos. As grandes mostras de arte da atualidade são como rituais arcaicos que orbitavam em torno dos curandeiros. Os cientistas da criatividade são hoje cultuados e temidos como os curandeiros do passado remoto. Essa nova espécie de “meteur em scene” vem perturbando o sono de muitos artistas. De um tempo para cá o mundo das artes foi envolvido numa atmosfera artificial carregada de ansiedade.

Motivos não faltam.

O mais significativo tem origem nas vertentes da vanguarda contemporânea que, ao contrario da vanguarda histórica, derreteu o outsider no insider.

As obras que não se encaixam no esquema em voga não são nem outsider nem insider, portanto, não merecem atenção dos cientistas da criatividade.

Eles não almejam apenas organizar uma mostra de arte, pretendem, isso sim, precipitar-se à história.

As atitudes artísticas que antecederam os últimos trinta anos, marcadas pela transitoriedade, romperam barreiras e descortinaram conceitos, trazendo à tona novas formas de expressão. Uma enorme variedade de estilos coincidiu com a atração generalizada pelo efêmero, despindo as obras de arte das características outrora reconhecíveis como “arte burguesa”.

Porém, tais atitudes resultaram num paradoxo que parece não preocupar alguns artistas e gestores das instituições culturais. Dentre as inúmeras questões a mais aparente é a consolidação de um estilo mundial de arte inscrito nas performances, instalações, intervenções coletivas, grafites, pichações e outros gestos identificados como formas de arte mais representativas da atualidade.

Ocorre, entretanto, que tais gestos já duram mais de vinte anos, ou seja, se projetam acima da média de vida de quase todo estilo internacional de arte. A história é farta em exemplos que nos confirmam que a longa permanência de um modo de arte conduz ao esgotamento levando grande parte da produção a procedimentos quase mecânicos e a ostensiva banalidade. É inconcebível, mesmo para um leigo, que artistas, diretores e curadores desconheçam o calendário das correntes estéticas da segunda metade do século XX, quando a Bienal de São Paulo passou a existir.

Uma rápida olhada sobre a descontinuidade de estilos pode esclarecer muita coisa. A pop art que surgiu na Inglaterra de meados dos anos 50 realizou todo o seu potencial na Nova York dos anos 60. O expressionismo abstrato dominou as décadas de 1940 e 1950. O minimalismo desenvolveu-se durante os anos 50/60 etc.

É, portanto, no mínimo curioso que as diversas variantes da produção artística atual, ligadas às referencias artísticas que antecedem os anos 80, sejam tão longevas.

Além disso, a relutância da Bienal de São Paulo em permanecer surda às criticas contra a idéia de reunir obras de arte em torno de um tema (2010- Arte Política –por exemplo) é uma teimosia típica das dinastias do passado. Na edição 2006, a falta de inspiração da cientista da criatividade responsável pela organização da Bienal, a levou a se apropriar de um “mote” de outros campos do saber para conferir substancia a sua proposta de vinculação da arte a teses de antropologia cultural. Foi nesse nicho que a cientista da criatividade escolheu o titulo Como Viver Junto, inspirado nos seminários de Roland Barthes no Collège de France realizados em 1976-77. O que essa escolha nos revela? Dentre os muitos tropeços, a falta de parâmetros apropriados ao tempo presente e uma enorme incompetência frente à diversidade da produção artística da atualidade. Reflexos objetivos dessa política podem ser vistos na perda da visibilidade pública das expressões estéticas comprometidas com a tecelagem de tramas simbólicas, ou seja, narrativas. Em resumo, na sua extensão mais objetiva essa política impõe uma visão “única” da arte da atualidade.

Atitude velha e comum ao autoritarismo. Seja em São Paulo, Kassel, Lisboa, Madri, Istambul ou Turquistão Oriental.

sexta-feira, setembro 10, 2010

ARTE E LITERATURA, REGISTRO E EMBATE

Por Rita Alves - Historiadora, Crítica Literária, poeta. Gestora de Patrimônio Histórico e Cultural, colabora com a família Orlando Villas Bôas na preservação do acervo do indigenista.

"...o formato BIENAL já nasce ultrapassado por si mesmo. Sob a égide de um tema limitador, inibe expressões espontâneas, colocando limites autoritários e mercadológicos. É preciso dar espaço para as várias manifestações, expressões dos mais variados tipos de arte, representações diversas..."

As primeiras relações entre as duas formas de expressão aparecem nas ilustrações feitas em obras literárias no século XIX, quando surgiram os ilustradores de obras clássicas como A Divina Comédia, Don Quixote ou as Fábulas de La Fontaine. Gustave Doré figura como principal referência. Não alterou a função da obra, elucidou imagens presentes no corpo da literatura, nos moldes dos significados que a época histórica permitiu. Salvador Dalí ilustrou o mesmo romance quixotesco e, através da visão surreal e do pensamento fragmentário que permeou a virada do século, registrou as mudanças na forma de construir – desconstruir – o pensamento. Quixote se atualiza pelas mãos da arte, reveste-se de subjetivismo, tal qual a época anunciada por Dalí em sua criação.

Antonio Henrique Amaral, mais recentemente, compõe o livro “Resmungos”, de Ferreira Gullar, dando ao livro não apenas imagens deslocadas do contexto, mas serão as ilustrações quem darão o ritmo ao conjunto de crônicas do poeta. O ilustrador se vale de mais de uma forma técnica – aquarela, xilogravura, acrílico, colagens – para colidir propositadamente com os resmungos de Ferreira Gullar.

Um diálogo imbricado, necessário, no qual a língua estanca frente ao universo criador do artista e no qual a arte se estabelece como extensão da palavra.

Antero de Quental, em 1865, para falar em nossa língua, produz um dos mais importantes documentos que pede definitivamente a quebra da estética conservadora da literatura, através da carta panfletária “Bom Senso e Bom Gosto”, chamada de Questão Coimbrã, em resposta a Castilho, que criticava o novo caminho modernista dos poetas portugueses, segundo Antero uma crítica "à independência irreverente de escritores que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência". Neste grupo modernista esteve Almada Negreiros, rompendo as formas estéticas da pintura realista, criador das antológicas capas da revista Orpheu, que alardeiria em apenas duas edições de pouco mais de 400 exemplares, o modernismo em nossa língua portuguesa e protagonista da primeira ‘performance’ de que se tem notícia, vestido de operário para se apresentar numa conferência.

Aqui no Brasil este trabalho ficou por conta da turma do Mário de Andrade, Bandeira e Oswald, unidos em causa – e efeito – aos artistas plásticos e músicos de sua geração. Todos contra os ‘sapos parnasianos’...

Mais recentemente Haroldo de Campos, Décio Pignatari e ainda Arnaldo Antunes têm construído essa trama complexa de unir imagem e palavra em forma de poema. Relacionando o sentido e a forma para ampliar o movimento do olhar, expandindo a possibilidade de devaneio do leitor/expectador.

A poesia tem se convertido em objeto estético. Para o poema o suporte já não precisa mais ser a página de um livro. Para Octávio paz, “A poesia concreta é uma vanguarda no sentido de arte que busca a ruptura”, mesmo movimento que se manifesta as artes plásticas por volta dos anos 50/60.

Atualmente não é possível definir a expressão poética por meio de um único estilo ou formato. Cabe tudo, todas as maneiras, como já prenunciava um dos precursores do modernismo português, Fernando Pessoa, pela voz de Álvaro de Campos; “Sentir tudo de todas as maneiras”.

O concretismo não está superado, estabeleceu-se como um dos estilos de expressão poética, assim como a arte de vanguarda. Cultura é processo constante, indefinidamente alimentada por ações individuais ou coletivas, mas especialmente por aquelas que provocam rupturas em moldes ultrapassados, atos que em si já contém a fórmula do novo. Sem conceitos pre estabelecidos.

Por este motivo o formato BIENAL já nasce ultrapassado por si mesmo. Sob a égide de um tema limitador, inibe expressões espontâneas, colocando limites autoritários e mercadológicos. É preciso dar espaço para as várias manifestações, expressões dos mais variados tipos de arte, representações diversas, como é diverso o ambiente criador brasileiro, sem anunciados preconceitos, como no caso da arte de rua, agregada posterior e contraditoriamente a atitude excludente inicial. É historicamente comprovado que a arte ao ser excluida se fortalece, por isso, é uma atitude absolutamente inocua a de colocar a margem segmentos significativos da expressão artística.

Mitos Vadios, segunda edição de uma manifestação idealizada por Ivald Granato, alarga o conceito de modelos pre estabelecidos, ganha importância na medida em que não propõe formatos, ganhando características próprias exatamente no processo de sua feitura, agregando ideias, permitindo quaisquer tipos de criação artística – performance, teatro, dança, poesia, artes plásticas - objetiva ou subjetiva, tornando-se assim, a própria manifestação, um objeto de arte – articulada coletivamente.