domingo, agosto 29, 2010

Bienal de Artes de SP - Alternativa 2010

FOLHA DE SP :: 29.08.2010
Por Ivald Granato
A
rtista plástico e performático
Presidente da ONG G11 - Associação para o Desenvolvimento da Arte e Cultura.

Para este ano de 2010, já se desenha uma Bienal confusa, sem verdadeira preocupação com a arte, sem pesquisa sólida ou escolha fundamentada.
Depois da última Bienal de São Paulo, em 2008, pedimos uma real e profunda reflexão, pois nela não vimos arte em suas várias representações. Ficou, literalmente, um vazio depois de milhões de reais investidos no vazio.
Para este ano de 2010, já se desenha uma Bienal confusa, com declarações sem conceito definido: arte política, terreiro, posições desencontradas, explicações que mudam a cada dia, parecendo visar apenas agradar à mídia, sem uma verdadeira preocupação com a arte, sem pesquisa sólida ou escolha fundamentada.

Depois da crise, o mercado tenta novamente estender seu domínio, mas devemos ter posição firme, clara, para um melhor e mais promissor mundo da arte, promovendo ação e reflexão para alimentar com consistência a nossa cultura.
Já se faz notar que a Bienal maquiará uma feira, alternando interesses de mercado e grupos de amigos, em acordos previamente acertados, sem nenhuma lógica ou justificativa conceitual em benefício do desenvolvimento da arte.
Nenhuma pesquisa - ou conselho- para a formação do grupo curatorial, ignorando o exemplo da Bienal de Walter Zanini, Sheila Leiner (a grande parede) ou ainda de Roberto Muylaert (que gerou tradição e ruptura).

A chamada de ordem do poder econômico grita mais alto e não é, necessariamente, a real expressão da arte. Arte política se faz por simbolismos, denunciando poderes autoritários ou regimes de repressão, sejam eles políticos, religiosos ou sectários.
Daí a ideia de fazer política democrática organizando uma manifestação para que todos os artistas possam levar sua mensagem por meio de uma obra, de qualquer estilo ou forma, para fazermos um grande cordão em volta do prédio da Bienal, fazendo mostrar que não conhecem a produção real da arte.
Será esta a possibilidade de mostrarmos o que verdadeiramente se produz atualmente.

Proponho, logo após o cordão, fazermos uma grande montanha de obras, e vamos descobrir qual será o seu destino, mostrando claramente as parcerias disfarçadas de conceitos contemporâneos de destino certo: o mercado especulativo, que prevê retorno do investimento, a bolha (ilusória) da arte.
Pelo muito que já foi divulgado na mídia e em redes sociais da internet, a 29ª Bienal será um "make-up" (influência da São Paulo Fashion Week?), uma feira com interesses de grupos que faturam no mercado de arte e artistas partícipes destes acordos "the dark side of the moon" da Bienal. "Sorry", Pink Floyd, pela lista dos "Deuses do Olimpo".
E o público? Ninguém pensou na importantíssima função socioeducativa para as massas? Nós pensamos e vamos fazer a Bienal de todos.
Compareçam com uma obra de qualquer formato ou estilo.
Vamos criar uma bienal democrática e não oficial, como nunca foi visto; vamos ativar o circuito artístico e mostrar que Bienal política tem que ser democrática.

MITOS VADIOS 2 :: ALTERNATIVA 2010
Manifestação Pacífica em nome da Democratização da Arte
21 de Setembro de 2010 às 17:00h
Parque Ibirabuera :: Portão 3 :: No calçadão em frente ao Prédio da Bienal
São Paulo - São Paulo -Brasil

terça-feira, agosto 24, 2010

"Contradição corrói as bienais de arte", diz artista Waltercio Caldas

MARCOS FLAMÍNIO PERES - FOLHA DE SÃO PAULO - em 24/08/2010
Foto: Luciana Whitaker/Folhapress


Admirador confesso de Auguste Rodin (1840-1917), Constantin Brancusi (1876-1957) e Pablo Picasso (1881-1973), Waltercio Caldas lamenta que as novas gerações de artistas brasileiros ignorem a história da disciplina --"perde-se muito com isso". O artista plástico também afirma que não consegue imaginar um mundo sem livros, mesmo vivendo na era digita

Folha - Às vésperas de mais uma Bienal de Arte de São Paulo, como vê o conceito de grandes exposições?
Waltercio Caldas - São anacrônicas, porque, embora pretendam absorver o que está acontecendo no mundo, ele está muito mais complexo do que elas são capazes de suportar.
Por não conseguirem dar conta da globalização das ideias e da vertiginosidade do tempo, tornam-se específicas. Embora o discurso seja totalizador, acabam defendendo um ponto de vista muito particular. E essa contradição corrói esse tipo de evento.

Como vê a apropriação de seu trabalho pelos artistas contemporâneos?
Hoje em dia, alguns artistas consideram que se pode fazer arte sem ter noção da história da arte, sem ter noção de todas as conquistas anteriores. E tenho a impressão de perdemos muito com essa deliberada ignorância.

Livros e palimpsestos sempre foram recorrentes em sua obra. Como vê o futuro da palavra impressa com o advento das novas tecnologias?
Não consigo imaginar o futuro da humanidade sem palavra impressa e sem papel. Os livros têm características tão especiais que nunca serão substituídas. A mídia eletrônica oferece ao espectador uma participação na velocidade do mundo, em sua vertiginosidade, enquanto o livro atende mais à ideia de contemplação.

Usa Facebook ou Twitter?
Procuro evitar... Tenho uma relação muita íntima com o tempo. Acho extremamente desagradável me relacionar com uma imagem que é filtrada por uma luz artificial que nos chega por meio de um sinal eletrônico.

Como avalia os museus brasileiros e sua formação de acervo?
É um problema que temos por puro descaso nosso. São poucos os museus que têm política de aquisição, e, quando as têm, são muitas vezes esporádicas e temporárias. Isso faz com que as instituições às vezes não tenham um acervo que possam representar sua própria história.

E como mudar isso?
Bem, para usar os perfumes como metáfora, acho que o Brasil, em arte, está começando a produzir fragrâncias muito boas, mas conhece muito pouco do processo fixador. E, no entanto, ele é fundamental.

A falta de apelo exótico de sua obra foi um problema para sua aceitação no exterior?
Não, pois acho que o mundo é suficientemente complexo para incorporar trabalhos de toda natureza.

Não acha que existe hoje uma culturalização da arte, entendida a partir de conceitos como cor, etnia etc.?
Acho, e isso de certo modo substitui os "ismos" [as vanguardas]. Por terem se tornado densos demais, cederam lugar a ordens sociológicas, psicológicas, etnológicas... Sob esse ponto de vista, meu trabalho tem um viés bastante crítico. Uma obra é exatamente aquilo que ela é, ele não quer ser a representação de nenhuma outra coisa.

Qual o artista que mais chama sua atenção na cena atual?
Gosto muito do [americano] Matthew Barney. Acho que ele tem uma pegada na questão dos materiais que é bastante inovadora.

Um crítico já definiu seu humor como machadiano. Você se reconhece nele?
Isso me lisonjeia, porque o humor de Machado --quase uma ironia-- é uma necessidade para o Brasil.

sexta-feira, agosto 13, 2010

POR QUE A BIENAL DEVE SER ETERNA?

Por Octaviano Moniz


Estou conectado. Dei uma volta pelo mundo virtual e vi que as coisas não andam nada boas para os “hermanos” cubanos. Depois que a múmia Fidel voltou das profundezas das trevas a repressão aumentou. Patológico, só fala numa irreal guerra nuclear, mas o povo pelo que acompanho na net (www.vocescubanas.com) 30 bloggers, nem pensam nisso, só em como conseguir o pão de amanhã pois Cuba está quebrada menos para Chico Buarque e Gabriel Garcia Marquez, mas não vou gastar adjetivos com 2 criminosos de guerra. Pois compactuam e divulgam na mídia o surreal.


A imprensa mundial quase não fala dos dissidentes e suas lutas, hoje a Folha de Sã Paulo relatava que crianças cantavam no aniversário de Fidel, sem sua presença. O estigma do paraíso criado por Che ficou no inconsciente coletivo e hoje ele é uma T-shirt fashion, uma sacola, uma caneca ganhou a estatura de um Deus. E Cuba o paraíso terrestre. O que fez: fracassou no Ministério da Industria, na presidência do Banco Central e quando Fidel, muito mais esperto, quis se ver livre dele mandou-o exportar a revolução em locais completamente despreparados. Pouca gente sabe disso, mas pesquisei em varias biografias: Fidel entregou Che de bandeja para a CIA. Guevara não queria o alinhamento incondiciional com a URSS e flertava com a China. Fidel resolveu o problema a seu modo. Hoje esta múmia que matou 7 mil cubanos desde 1959, no famoso “paredon” quer fazer como Cristo e ressucitar Lazaro. Mas ele não é Cristo nem Cuba Lazaro. Recentemente em discurso citou a URSS, lapso de memória ou arterioesclerose? Liberte seu povo, tirano. Sei que serei chamado de analfabeto pela esquerda festiva, que adora comprar na Daslu pra conhecer a empresaria, "socialite-criminosa", Tranchesi, comer caviar beluga com salmão defumado lendo o Manifesto Comunista de cabeça para baixo. Nunca compreenderam Marx. Analfabetos funcionais.


Mas o assunto deste artigo é o modelo das Bienais mundo afora. Arte. Isso, novos-ricos, aquele “negócio” pra combinar com o sofá chiquésimo. São mais de 200 mundo afora, todas mega eventos que demandam grandes espaços e muitos artistas. Qual a finalidade? Mostrar um amontoado de artistas, com as mais varidas linguagens, técnicas e tamanhos para o córtex cerebral. Este não é capaz de apreender tamanha quantidade de informações, tão dispares apesar de ter uma temática, mas fica tão subjetivo que qualquer coisa hoje tem a capacidade de simbolizar artisticamente o que quer que seja.


Na presente Bienal de São Paulo, um grande evento midiático e econômico para a cidade, desde 1951, colocou-se como tema Arte e Política mas a arte leva ao sonho, ao delírio e política para mim pode ser um copo de água pela metade. Fui artista convidado logo tenho que ser exposto. O lugar é gigante como um Mall americano e vamos desfilando pelas lojas vendo camisetas, escarpins, xales, gravatas só que intitulam aquilo de arte. Falo da disposição das obras. O curador disse que é arte e pronto. Se você quiser questionar, mesmo sem ser um expert em Estética é considerado, não culto, leigo, out. Como a arte desde o ourinol de Duchamp, que dessacralizou a mesma, pode ser qualquer coisa acompanhada de uma bula conceitual que explique ao pobre visitante o que está vendo, uma mostra destas dimensões em nada contribui para a sua finalidade sócio-educativa. É um mega brechó onde vale-tudo e o fruidor sai com uma overdose de imagens, sem fixar nada, pois tem as filas, como gado sendo vacinado um atrás do outro, olhou, passou para o próximo e daí por diante. Será que não dá para perceber que este modelo está caduco? Quem disse isso foi Hans Ulrich Obrist, eleito em 2009 a personalidade mais importante nas artes plásticas pela revista inglesa Art Review e diretor da Serpentine Gallery, London. Ele coloca como contraponto um maior numero de eventos localizados e focados principalmente na Educação. Você compraria para uso um carro de 1951? Era pré JK? Certamente como a Bienal daria recordes de público, todos amariam entrar e dar uma olhadinha mas o carro ia viver quebrando, as peças não existiriam no mercado, gastaria muita gasolina enfim as coisas tem um tempo útil de vida tudo, inclusive a espécie humana, então por que a Bienal teria que ser eterna?


Como misturei política e arte considero meu texto uma obra e espero que a curadoria me convide para expor. Qual o problema? E mais, quero pasagem de avião, hotel 5 estrelas e ter meu texto ampliado com uma grande moldura dourada junto dos pixadores. Assim me sinto em casa. Valeu meu rei, em bom baianês!

terça-feira, agosto 10, 2010

Meu "Ourinol" de Ouro

Meu "Ourinol" de Ouro: Crônica inteligente, apimentada e bem humorada, marcas registradas, de Octaviano Moniz sobre o forjamento da arte e da arte sob medida. Ele faz uma reflexão sobre o cenário baiano, e sobretudo da ausência dos artistas da terra de São Salvador da Bahia de Nenhum dos Anjos, ops - sorry, digo de Todos os Santos na Bienal de SP de 2010, e no prêmio PIPA-MAM-RJ. (Foto: Urinol para vários tamanhos - Anastácia Venenosa)
F.F.A

MEU OURINOL DE OURO

por Octaviano Moniz


De volta às letras. Elas me querem. Mas causam uma confusão infernal . Sobre? Arte é meu prato principal, sem espinhas, please e garfos de peixe. Sou snob. Como todo bom artista. Não sofro da síndrome de Fabiano de Vidas Secas que sabia ser um animal. De quatro patas. Por hora tenho duas e uma língua quilométrica. Ontem no almoço,minha mãe, poliglota e culta, soltou a seguinte pérola: ”arte é para decorar”. Ativou meus neurônios e tentei explicar pela Teoria da Formatividade de Pareyson que ia mais além. Perda de tempo. E ela é antenadésima em design e moda, curte as tendências da moda e sabe que uma coleção de Dior envelhece rápido. Pois bem,assim é com a arte,o século XX veio a galope, as vanguardas se sucederam e hoje vivemos num pós tudo onde o conceito às vezes é mais relevante que a obra. O conhecimento antes da expressão. O pior é que ela não está só aqui na Bahia,onde habito por ora, as galerias e decoradores se esmeram para achar quadros que façam pendant com as cortinas. Esculturas só de orixás para proteger a casa e seus rebentos. Vivemos ainda numa época pré-impressionista quando com o advento da maquina fotográfica o caráter de retratar o real perdeu a razão de ser. Aqui não, o importante é a paleta de cores do pintor e o colecionador chega e pede um quadro verde que combine com seu papel de parede. Os artistas ainda estão coibidos de colocar suas impressões na tela, o que ocorreu em 1890 na Europa, isto como diria Hitler é uma arte de degenerados, temos que ser fieis ao real. A fotografia é um hobby. Mega empresários saem em busca das perolas da arte acadêmica baiana. Enquanto Picasso estava devorando tudo com o cubismo,os artistas baianos, que chegaram a viajar ao velho continente se esmeravam em ser uma maquina fotográfica, made in China. Qualidade zero. As galerias da boa terra promovem leilões suntuosos,com salmão e whisky 18 anos. Acredito se algum estrangeiro que freqüente o circuito das artes entrar pense ter entrado no tunel do tempo e vai surtar. Artistas brsileiros como Helio Oiticica, Ligia Clarck, Ligia Pape,ou mesmo Beatriz Milhazes e Eduardo Berliner alcançam cifras que somado o total do leilão não chegam perto. Cada dia mais a arte neo concreta carioca é estudada e valorizada, exposta em museus de todo o mundo, mas escondida pelos marchands locais para não perderem suas viagens de navio de fim de ano, nem as temporadas de ski. Até quando eles conseguirão enganar estes colecionadores? O que me causa espécie é que muitos viajam muito, será que não freqüentam a Saatchi Gallery, a Gagosian, O PS1 em NY, o Beaubourg em Paris e outras mecas da arte? Os artistas locais tem que se adequar e se quiserem ter vida boa tem que pintar com tons pasteis, aceitar encomendas que combinem com o vaso sanitário e fazer pintura decorativa. Por isso não tivemos nenhum artista chamado para a Bienal de Sampa 2010, nem no Prêmio PIPA-MAM-RJ. Goebbels ministro da Comunicação de Hitler dizia que uma mentira dita varias vezes vira verdade. É o que fazem estes marchands, com um olho no quadro decorativo outro na pista de ski de Aspen. E o colecionador? Leva seu objeto de decoração para casa,como um abatjour,ou um ourinol,Sem o sentido Duchampiano. A arte baiana é controlada por uma máfia de poucas galerias que como papagaios treinados e bem trajados dizem; ”Oh, está lindo, vai ficar um luxo com seu tapete persa”. Desculpem, vou procurar meu ourinol e fundar a arte conceitual na Bahia.............Plagio? Pense num absurdo, já aconteceu na Bahia.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Anestesia ideológica

Por Fernando Barata (Paris) - Artista Plástico

Fazem uns 15 anos que somos reféns do White Cube ( Brian ODoherty), ou seja da galeria vazia com as paredes brancas. Fico impressionado com a incapacidade critica de certos artistas, curadores, críticos e colecionadores. Deixar-se impressionar por este modelo sem nenhum senso critico é fazer prova de anestesia ideológica. O atelier e a galeria se transformaram em laboratórios de banalização e mesmo mistificação de teorias cientificas. Claro que White Cube funciona como uma senha para iniciados e um signo de reconhecimento pela tribo. Acho isto pretensioso. Estas posturas apesar de suporem um desenvolvimento lógico de conceitos, funcionam de fato como um feltro impenetrável de banalidades que só beneficiam a especulação do mercado.
Esta operação transforma a pintura e a escultura em coisas mortas e valoriza o espaço imobiliário, tendo como corolário a "Bienal do Vazio" em S Paulo. Proponho durante os "Mitos Vadios 2", o leilão do patrimônio imobiliário esvaziado do seu conteúdo, que é o Pavilhão da Bienal.

domingo, agosto 08, 2010

"Na Bienal de São Paulo, qualquer bobagem tem que ser aceita, porque quem fala mal é visto como sendo de retaguarda”.

Ferreira Gullar - Trecho da materia de Luciano Trigo, do G1, em Paraty

Artes plásticas e literatura

Indagado sobre sua atividade como crítico de arte, Gullar disse que, antes de pensar em ser poeta, queria ser pintor. “Depois a poesia tomou conta, essas coisas a gente não governa. Mas continuo pintando e pensando sobre artes plásticas até hoje. Sobre poesia eu não penso, eu simplesmente faço: a minha poesia nasce do espanto. Qualquer coisa pode espantar um poeta, até um galo cantando no quintal. Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta”. Gullar aproveitou então para criticar certa atitude que prevalece entre artistas. "A vanguarda é que nem o terrorismo, ninguém pode botar o galho dentro. Na Bienal de São Paulo, qualquer bobagem tem que ser aceita, porque quem fala mal é visto como sendo de retaguarda”.

sábado, agosto 07, 2010

Arte pós humanista - Uma cronica :: Adriano de Aquino

Genial esta cronica de Adriano de Aquino.
Qualquer semelhança seria mera coincidência?

Para Rá Antunes a palavra ateliê é apenas uma menção nostálgica e antiquada de um lugar mítico onde artistas da antiguidade pós moderna criavam e produziam obras de arte. Rá, é um expoente da primeira casta de artistas do pós humanismo. É um sujeito dinâmico e ultra-flexível, Suas “incisões estéticas” - referencias históricas e inscrições duchampianas já estão fora de moda - são "criadas" em diversos laboratórios espalhados nas centenas de bienais que ocorrem em todo o planeta . Mas, antes de falar das virtudes de Rá é adequado que eu os apresente seu principal teórico e articulador político. É bom que saibam de antemão que no pós humanismo não existe arte sem política pessoal. Dionísio Pepper é, nesse contexto, uma peça crucial das estratégias avançadas de Rá.

Mas, quem é Dionísio?

Uma biografia resumida, já que a militância artística de Dionísio é bastante breve e veloz, nos informa que ele foi formado em economia numa faculdade de Alagoas. Por força de sua simpatia e entrosamento com a alta sociedade local foi o único de sua turma a ser beneficiado com uma bolsa de estudos em Londres onde, durante um longo e penoso ano, freqüentou um curso de marketing financeiro num famoso MBA inglês. De volta ao Brasil se empregou num grande banco paulista.

Durante sua temporada londrina compactou seus desejos num formulário de objetivos precisos. Dependia da economia, mas, sua sensibilidade para arte também podia ser aplicada economicamente. Por que não? Perguntava-se. Hoje, qualquer um que some lé com cré pode se destacar no ambiente cultural.

-No conjunto de experts em arte no Brasil, eu sou um gênio!Especulava entusiasmado.

Como ninguém é de ferro, nas horas vagas Dionísio passeava nos museus ingleses. Numa dessas andanças, extasiado diante de uma obra de Damien Hirst, Dionísio esbarrou em Herbert Ward. Na troca de desculpas e gentilezas os dois terminaram sentados na cafeteria do museu trocando figurinhas. Após as apresentações de praxe Herbert foi direto ao ponto revelando que se colocara estrategicamente como um obstáculo entre Dionísio e a obra do mais famoso star da arte pós humana. Hesitante por alguns segundos, Ward acrescentou que fez isso porque ficara comovido com a entrega total de Dionísio à obra de Hirst e que isso o havia provocado intensamente. Emocionado, Dionísio esqueceu os compromissos da tarde e os dois saíram a passear pelas simpáticas ruas londrinas. Num ponto nostálgico de Carnaby Street, Ward confidenciou que essa tarde havia sido maravilhosa para ele. Disse baixinho que antes do encontro com Dionísio estava tenso e angustiado pois, por coincidência, nessa mesma tarde, a comissão do Royal Scholl of Art estava reunida para decidir entre três nomes, aquele que seria o curador da mais nova bienal do planeta- A Bienal do Cazaquistão.

Os dois se despediram na frente da entrada do metro, não sem antes Ward propor trocarem seus números de telefones.Na oportunidade insinuou que gostaria de comunicar a Dionísio a decisão do Real Conselho.

Ward se tornou curador. Logo se entende o que os dois comemoraram a luz de velas num restaurante próximo ao Royal Museum, local onde haviam se conhecido. Depois desse comovente jantar os dois passaram a dividir um único lençol e a comungarem a mesma profissão.

Desse entrosamento afetivo nasceu o Dionísio que conhecemos. Teórico, professor de arte, curador e consultor artístico de grandes empresas e coleções de arte brasileiras. Ainda que seu maior êxito editorial seja a enorme coleção de passaportes integralmente carimbados e com todas as folhas, frente e verso, esgotadas. Dionísio deu muitas entrevistas e publicou quatro livros sobre arte contemporânea. Todos, direta ou indiretamente, vinculados à obra de Rá. O texto mais notável de Dionísio teve o triunfante titulo: Das Glorias de ser curador de Bienal.

Nesse ínterim Rá dava murros em ponta de faca para vencer os contratempos e o fervor moral dos pós – pós - modernistas.

Suas experiências laboratoriais estavam travadas por falta de compreensão das autoridades e absoluto desinteresse do mercado de arte.

O problema com o mercado era facilmente resolvido já que Rá tinha uma malta de fiéis seguidores dentro da burocracia cultural Planaltina. Sempre que podiam o colocavam num projeto incentivado. O clube dos curadores sistematicamente o indicava para uma Bienal. Seja do Mercosul,Veneza ou Venezuela. Vai daí que Rá participava em media,num ano, de dezoito bienais mundo afora.Tudo devidamente subvencionado.

Não esqueçam que Rá já havia participado de duas quadrienais de Kassel. Sua ultima participação foi motivo da publicação de um caderno especial da Folha de São Paulo pleno de elogios. Até o ministro da cultura participou da iniciativa comprando uma página inteira do caderno para publicar um anuncio do governo.

Mas, mesmo esse sucesso todo não tranqüilizava Rá. Ele queria mais!Sabia que podia mais!

Suas pesquisas NeuroEstéticas estavam ocorrendo na clandestinidade. Isso o aborrecia terrivelmente.

Rá estava estafado, ansioso e revoltado. Uma editora especializada em arte pós humana estava insistindo há mais de um ano para que ele publicasse mais um livro de Obras Completas.

-Ora, já fiz nove livros de obras completas em 12 anos de carreira artística. O que esses caras querem de mim?Sugar meu sangue? Esbravejava pelos cantos do seu laboratório doméstico. Um apartamento no Leme totalmente decorado com suas incisões estéticas. Esse era seu refugio que, aliás, já tinha sido mostrado ao publico pela mídia quando de uma entrevista sobre seu sucesso internacional e suas idéias para a nova arte global.

-O que eu quero não me permitem fazer. Resmungava por entre tubos de ensaio,fios condutores,plasmas e cérebros humanos imersos em líquido colorido dentro de compartimentos vítreos.

-É o moralismo religioso dessa gente hipócrita!Dizia em tom baixo, quase inaudível.

-A reação dos marchands que investiram pesado na arte pós pós moderna é de um conservadorismo atroz e depravado. Coisa do passado remoto, ainda protegido pela fé duchampiana. Vocês não imaginam como esse troço atrapalha os avanços estéticos e atravanca minhas experiências! Confidenciou Rá a seus embasbacados admiradores mais íntimos.

Todavia, o providencial retorno de Dionísio ao Brasil salvou o futuro de interveniências antiquadas e improdutivas.

Vejam o que diz Rá sobre isso:

-Minha ultima IncisãoEstética proposta para a Bienal foi quase vetada porque um bando de petulantes resolveu impedir que Dionísio em co-curadoria com Hebert Ward mais aquela senhora de Kassel que não lembro o nome e o curador atual da Bienal do Cazaquistão;Severino Albuquerque Cavalcanti, tornassem o primeiro andar do pavilhão da Bienal de São Paulo um laboratório neuro-estetico a céu aberto, que dizer, não totalmente aberto, já que estaria protegido pela construção.

- Meu Deus, isso é pura ignorância! Protestou Mairá Deware, a mais famosa instaladora artística do pós humanismo.

-Cai de joelhos, em transe religioso, quando visitei esse ano sua exposição Caos Cibernético, no palácio do governo da Bahia. Disse Mairá.

-Meu Deus!Como não deixar o povo ver aquela maravilhosa fileira de homens e mulheres, com o tampo da cabeça decepado, porém, vivos, cérebro à mostra, sobre os quais você motivava impulsos elétricos estimulando as áreas do prazer e da dor? Gente imbecil, nem ao menos sabem que o cérebro não sente dor!

-Tive um ataque de nervos quando um artista provinciano que tem o nome de um centurião romano resolveu quebrar tudo e liberar os suportes, quer dizer, os corpos humanos. Pra mim, o cara quis fazer um “contra evento” e criar fama internacional nas suas costas! Concluiu Mairá.

-Deixa pra lá, são os ossos do oficio. Retrucou Rá

-É verdade!Complementou Ermenegildo Neto um artista sub-intelectualizado em voga no momento.

-É inesquecível!Aquelas fileiras humanas dispostas simetricamente. Para mim era uma critica contundente ao nazismo.Não via quem não quisesse ver,ou tivesse olhos pra ver.Me emocionei ainda mais com aquela tenda negra,misteriosa e impenetrável que com uma luz tênue a piscar aleatoriamente nos remetia aos mistérios da mente,quer dizer,do cérebro,ou melhor dos dois,né? Concluiu Ermenegildo.

Resumindo, as relações políticas de Dionísio, o apoio da mídia e do presidente da Bienal de São Paulo firmaram um pacto positivo protegendo com determinação e empenho a liberdade de expressão. Os artistas pós humanos são devedores do esforço e dedicação de poucos para o beneficio de muitos, mas,sobretudo, para o avanço da Arte.

segunda-feira, agosto 02, 2010

ARTE VIROU GRIFFE

Por Octaviano Moniz (Tatau)
Foto: Retrato do Tatau :: por Ivald Granato

Eu vou sair do sertão num pau-de-arara e a viagem vai virar documentário. Vou pra Sampa, a megalópole. Não levo nada, só um par de Havaianas (patrocinado que não dou mole),1kg de carne seca, muita farinha e minha inseparável Glock. Se alguém vier tirar onda em cima do baiano leva chumbo. Vai ser uma performance a la Anish Kapoor, só que a minha vai ser melhor, sem metáforas, onomatopéias, cacofonias e outras frescuras que artistas e cú-ra-dores adoram, claro, depois do vibrador japonês com I Pad e Kindle. Rios de sangue intelectualóides, vísceras de hipertexto, corações de hashtags. Tatau in concert. Aguardem, o MITOS VADIOS II. Granato vai abalar as estruturas desta Bienal caduca, que não muda desde 51, antes de JK, o mundo mudou pseudo filósofos. Este modelo não atende mais a sociedade brasileira nem mundial, são mais de 200, virou moeda de troca, a mão invisível do mercado se apossou da mostra(Adam Smith) e os artistas ficaram relegados a um banquinho sentados olhando os espectadores verem as obras como as madames vêem objetos da Hermes, da Courreges, arte virou griffe.