domingo, abril 29, 2012

IVALD GRANATO NO JAMES LISBOA :: 08.05.12

Ivald Granato e a mostra CorSimCorNão


O James Lisboa Escritório de Arte inaugura no dia 8 de maio, terça-feira, às 20 horas, a mostra Cor Sim Cor Não do artista Ivald Granato. Na individual, o irrevente artista abandona a figuração, apresentando 38 pinturas sobre tela, papel e colagens produzidos entre 2011 e 2012. Abertura conta com pocket show da banda de pós-punk Tokyo Savannah, com quem Ivald dá canja de guitarra, e uma atração surpresa. Verborrágico, exagerado, performático, Granato simplifica sua pinturas deitando o esquema de cores celebrizado em Heads (1989) para produzir a presente série. Nela, o campo visual é tomado por grandes pinceladas de cores saturadas entremeadas por linhas igualmente marcantes e descontínuas. 


O título Cor Sim Cor Não, por sua vez, leva às raias da obviedade sua atual noção de pintura – atual, sim, já que a personalidade mutante do artista reinventa a técnica a cada estação. O grande conjunto de colagens e pinturas sobre papel que abrem a exposição, essas de menor dimensão que as pinturas da sala seguinte, ilustram parte do processo de criação do artista, iconoclasta que rasga jornais, revistas e mesmo seus próprios desenhos para recompor a massa em sínteses de grande apelo visual.  Outro aspecto de interesse na mostra é seu caráter multifacetado, pois conta com a exibição de um site specific do artista Flávio Rossi e a apresentação do curta-metragem Parece que foi ontem (9’, cor, 2008) registro de performance de Granato feito por Ismael Oliveira. 


Sobre o artista: 

Ivald Granato, é fluminense, nascido em Campos, Rio de Janeiro, em 1949. Até 1966 viveu em sua cidade natal, onde começou a desenhar desde muito cedo, sob influencia dos pintores cubistas. Nesse ano inicia seus estudos com Robert Newman e, no ano seguinte, ingressa na escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Artista polêmico e provocador, utilizou, além da pintura, a performance como meio de expressão. O Urubu Eletrônico (Teatro Municipal e São Paulo, 1976), Ciccilio Matarazzo em Mitos Vadios (Rua Augusta, São Paulo, 1978), Bandait (Centro SP Cultural São Paulo, 1982), Painting Performance (Munique, 1984), Pasta Man (Basiléia, Suiça) e Painter and Model (Escola Panamericana de Arte, 1991) foram algumas das inúmeras performances. Recebeu vários prêmios, entre eles o de Melhor Ilustrador do Ano, da Editora Abril, e o Prêmio aquisição na 1a Trienal de Osaka, Japão, ambos em 1990, e o Prêmio Jabuti, de Melhor Capa de Livro – Processo de Criação – Darlene Dalto – 1993. Granato realizou numerosas exposições individuais e coletivas no Brasil, Estados Unidos, Japão, América Central e América do Sul, das quais podemos destacar as seguintes: Bienal Internacional de São Paulo, 1979, 1981, 1985, 1989 e 1991; 1a Bienal de Havana, Cuba, 1984; 4a Bienal Ibero-Americana de Arte, México, 1984; exposições no MuBE em 2004 e2005; no MAC-SP; no Museu de Arte Contemporânea de Olinda; no Museu de Arte Moderna, Salvador; My Name Is Not na Document-art Gallery, Buenos Aires, 2011; Rambranato, em Cascais, Portugal; na Renato Rodyner Gallery, 2011; e na Bela 2012 – Biennial of Europian and Latin American Contemporary Art no Porto, Portugal em maio de 2012. 


Exposição: Cor Sim Cor Não – individual de Ivald Granato Abertura: 
08 de maio, terça-feira, às 20h 
Período expositivo: de 09 de maio a 26 de junho de 2012 
Local: James Lisboa Escritório de Arte Endereço: Rua Dr. Melo Alves, 397, Cerqueira César, CEP 01417-010, São Paulo, SP 
 Horários: de segunda a sexta, das 10 às 19 horas e sábado, das 10 às 14 horas 
 www.escritoriodearte.com

quarta-feira, janeiro 11, 2012

CHARLES SAATCHI :: Fala do quão repugnante ele acha esse novo mundo das arte

para o “THE GUARDIAN”
Tradução de CLARA ALLAIN

Ser um marchand hoje em dia é indiscutível e amplamente vulgar. É o hobby de integrantes do "eurotrash", de oligarcas e "óleogarcas" descolados, e de marchands dotados de autoestima em níveis masturbatórios.

Essas pessoas foram encontradas reunidas em seus superiates em Veneza na espetacular Bienal de Arte de 2011. Veneza já tem lugar cativo no calendário desse novo mundo das artes, em uma sequência estonteante de eventos sociais carregados de glamour, passando de uma festa cheia de luxo a outra.

As credenciais artísticas precisam estar sempre atualizadas. É importante de ser visto como uma pessoa culta, elegante e, é claro, estupendamente rica.

Será que alguma dessas pessoas de fato sente prazer em observar obras de arte? Ou elas simplesmente se comprazem em ser donas de quadros facilmente reconhecidos, criados por grandes nomes, comprados de modo ostensivo em leilões por preços de tirar o fôlego para decorar suas diversas residências -flutuantes ou não-, em uma demonstração instantânea de riqueza ímpar?

O prazer delas consiste em que seus amigos avaliem o peso de suas aquisições e fiquem estarrecidos.
Não surpreende, portanto, que o sucesso dos supermarchands seja baseado no poder misterioso que a arte hoje exerce sobre os super-ricos.

IMPRESSÃO REFINADA
 
Os novos colecionadores, alguns dos quais se tornaram multibilionários graças a seu tino para os negócios, são reduzidos à gratidão incoerente por seus marchands ou assessores artísticos, que podem ajudá-los a transmitir uma impressão refinada, moderna e de bom gosto, cercados por suas obras-primas irretocavelmente descoladas.

Não faz muito tempo, eu acreditava que qualquer coisa que ajudasse a ampliar o interesse pela arte contemporânea deveria ser saudada e que apenas um esnobe quereria que a arte fosse limitada a um grupo de aficionados merecedores dessa descrição.

Mas mesmo um sujeito exibido, narcisista e que defende seus próprios interesses, como eu, acha repugnante esse novo mundo das artes. No fervor dos excessos, nem sequer é considerado necessário perder tempo para olhar as obras expostas. Nos mega eventos artísticos do mundo, são apenas os quadros na parede que acabam passando despercebidos.

Não conheço muitas pessoas do mundo artístico, frequento apenas as poucas de quem gosto, e tenho muito pouco tempo para roer as unhas de ansiedade devido às críticas.

Se eu parar por um instante de me comportar corretamente, revelarei meu segredinho obscuro: na realidade, não acredito que muitas pessoas do mundo das artes tenham muita sensibilidade para as artes.
Acho que muitas não conseguem distinguir um artista bom de outro fraco, enquanto o artista não tiver sido validado pelas opiniões de outros. Para os curadores profissionais, selecionar telas específicas para uma exposição é uma perspectiva que assusta, por ser uma demonstração reveladora demais da falta daquilo que nós, do ramo, chamamos de "olhar".

Eles preferem exibir vídeos, além de incompreensíveis instalações pós-conceituais e painéis de fotos e textos, submetendo-os à aprovação de seus pares igualmente inseguros e míopes. Esse trabalho "conceitualizado" vem sendo regurgitado incessantemente desde os anos 1960.

POUCA CURIOSIDADE

Poucas pessoas no mundo da arte contemporânea manifestam muita curiosidade. A maioria passa seus dias falando bobagens, no lugar de tentar discernir por que um artista é mais interessante que outro ou por que um quadro funciona e outro, não.

Os críticos de arte vão ver principalmente as exposições que seus editores lhes mandam cobrir; seu interesse em ver outras coisas é limitado. Os marchands raramente vão ver exposições nas galerias de outros marchands.

Já ouvi dizer que quase todas as pessoas que lotam os grandes vernissages mal olham para as obras -vão aos eventos apenas para bater papo. Não há nada de errado nisso, exceto pelo fato de que elas nunca retornam para ver a arte, mas dizem a todos que viram a mostra.

Por favor, não interprete minhas opiniões pomposas acima expressas como sendo referência à grande maioria das mostras promovidas em galerias, em que marchands expõem obras de arte que esperam que alguém queira comprar para sua casa. Esse aspecto do mundo das artes me enche de prazer, quer eu goste ou não da arte exposta.

Perguntam-me amiúde se eu compraria arte se não houvesse uma oportunidade de lucrar com isso. Eu não lucro com isso. Qualquer lucro que eu possa auferir com a venda de obras de arte é reinvestido na compra de mais obras de arte.

É bom para mim, porque posso continuar a encontrar muitas obras novas para expor. É bom para aqueles do mundo da arte que veem essa abordagem como prova de minha venalidade, superficialidade e malevolência.

E é compreensível que, a cada vez que você deixa um artista feliz ao selecionar a obra dele, deixe cem pessoas ofendidas: os artistas que deixou de escolher.

Alegra-me que nossas exposições tenham recebido resenhas pouco elogiosas desde a exposição inaugural, "Warhol, Judd, Twombly e Marden" (1985). Ainda acho que o dia em que todo o mundo gostar de uma mostra será um dia negro.

A mostra em questão seria uma coisa pouco inspirada, algo feito para agradar ao establishment das artes, e eu saberia que meus dias atuando com arte estariam finalmente terminados.