domingo, dezembro 12, 2010

Bienal de SP não atinge o público esperado, mas curador se diz aliviado

Maria Carolina Maia - Veja - 12.12.2010

Meta da organização do evento, que termina neste domingo, era receber 1 milhão de pessoas. Total de visitantes deve ficar entre 550.000 e 600.000

Foto de Moacir dos Anjo, que dividiu a curadoria da 29ª Bienal de São Paulo com Agnaldo Farias

Moacir dos Anjo, que dividiu a curadoria da 29ª Bienal de São Paulo com Agnaldo Farias (Divulgação)

Após quase três meses, a 29ª Bienal de São Paulo chega ao fim neste domingo com um público menor que o esperado – a meta inicial da organização era atrair 1 milhão de visitantes ao pavilhão do Parque do Ibirapuera. O número final de espectadores só será conhecido nesta segunda-feira, quando será feito um balanço da mostra. Mas, de acordo com Moacir dos Anjos, que dividiu a curadoria da exposição com Agnaldo Farias, o número deve ficar entre 550.000 e 600.000 pessoas.

Se não atingiu o objetivo estabelecido em termos de público, a 29ª edição da Bienal teve outras conquistas. A importância do evento, diluída em sua edição anterior (apelidada de "Bienal do Vazio"), restabeleceu-se. Houve diversas polêmicas e a presença de estudantes se ampliou.

É provável que o empresário Heitor Martins, considerado o grande responsável pela revitalização do maior evento de arte nacional – ele transformou uma dúvida de 4 milhões de reais em investimentos de 30 milhões e recuperou a imagem da mostra – permaneça à frente da Fundação Bienal para a edição de 2012. Moacir dos Anjos, no entanto, já anuncia que vai sair. Segundo ele, é saudável para o evento ter um olhar diferente a cada edição e ele próprio quer se dedicar a projetos menores. Antes de se despedir da exposição, Moacir dos Santos conversou com o site de VEJA. Confira abaixo, em tópicos, os principais momentos da entrevista.

Público
“Devemos alcançar algo entre 550.000 e 600.000 visitantes. É um número expressivo, tão grande quanto o da 27ª Bienal, aquela realizada antes da Bienal do Vazio (que recebeu 150.000 pessoas), e maior que o da Bienal de Veneza, de cinco meses de duração. Está entre os maiores públicos de qualquer Bienal do mundo. Poderia ser mais, é claro, mas, creio que há um limite de público para o evento. É um paradoxo: a gente quer atrair o maior número de pessoas, mas sabe que há um teto. Um milhão é um número mágico ligado a um desejo de inclusão quase absoluto. Um número simbólico. Não estava amparado em nenhum dado científico relacionado à capacidade da exposição acolher esse número de pessoas de forma adequada. Receber cerca de 600.000 pessoas já demanda um grande esforço para permitir que a exposição seja apreciada por todos sem nenhum prejuízo da experiência. Eu tenho dúvida da capacidade de uma exposição desse tamanho comportar mais público do que isso. Eu estive na mostra diariamente e vi que ela estava cheia, no limite da visibilidade. Em algumas salas, a gente circulava com dificuldade, especialmente a partir das 15h.”

Escolas
“Ter quase metade do público constituído por estudantes e professores é um mérito, não um demérito. Esse é o foco do evento. O projeto educativo começou simultaneamente com o da curadoria, em agosto de 2009, não como apêndice, e sim como parte central da proposta da exposição. Em fevereiro, já estávamos com todo o projeto educativo pronto, textos e jogos elaborados. Em março, começamos o treinamento de professores da rede pública e privada – até agosto, foram treinados cerca de 30.000 professores, que puderam reproduzir em sala o conteúdo recebido. Só não trouxemos mais alunos por questões logísticas.”

Polêmicas
“Tenho um sentimento ambivalente em relação às polêmicas. Elas mostraram como as artes visuais podem fazer alguns segmentos da sociedade falar e se colocar diante da arte. Quando o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) se manifesta pela retirada de uma obra da mostra, ele leva à sociedade na discussão artística. É interessante como a arte ainda é capaz de promover o debate acalorado sobre determinadas questões. Por outro lado, as polêmicas lançaram uma nuvem de opacidade sobre o resto da exposição. Muitas obras passaram despercebidas.”

2012
“Eu fui contratado para esta Bienal. A cada dois anos, a mostra contrata um novo curador. Houve alguns casos no passado em que a curadoria foi convidada a permanecer. Mas não é a intenção dessa organização. Nem é minha vontade fazer uma outra mostra desse porte por muitos e muitos anos. Prefiro focar em mostras menores. Para a instituição, é salutar ter um olhar diferente a cada dois anos.”

Veneza
“Eu e o Agnaldo Farias vamos agora trabalhar na representação brasileira na Bienal de Veneza do ano que vem. Convidamos Artur Barrio, português que mora no Brasil desde os 10 anos, a apresentar um trabalho novo na mostra. Desde meados dos anos 1990, o governo brasileiro delegou à Fundação Bienal de São Paulo a organização da representação brasileira dentro da Bienal de Veneza, a única do mundo que ainda tem representações por país. Em geral, as delegações elegiam dois artistas. Dessa vez, decidimos apresentar um apenas, para mostrá-lo de maneira mais potente, não acanhada. Barrio foi escolhido por ser reconhecidamente um grande artista brasileiro. Desde os anos 60 tem tido papel fundamental na arte mais experimental brasileira. E achamos que a Bienal de Veneza é uma plataforma importante para legitimar internacionalmente a sua trajetória.”

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