terça-feira, setembro 21, 2010
MITOS VADIOS 2 :: CARPE DIEM :: SEIZE THE DAY
sábado, setembro 18, 2010
A ARTE VAI PARA UM LADO E O MERCADO VAI PARA O OUTRO
segunda-feira, setembro 13, 2010
Morre em São Paulo o artista plástico Wesley Duke Lee
Morre em SP o Artista Plástico Weslei Duke Lee
Lee causou frisson nos anos 1960 e 1970 com seus happenings e fundou a galeria Rex
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Wesley Duke Lee diante de quadros de sua coleção particular e ao lado do gato Tik, em sua casa em Santo Amaro. (Fernando Moraes/Dedoc)
Morreu ontem o pintor brasileiro Wesley Duke Lee, aos 78 anos, em São Paulo. Lee ficou conhecido nos anos 1960 por promover os primeiros happenings no Brasil, performances que reuniam vários intelectuais, jornalistas e boêmios com exibição de vídeos, mostras de fotografias e telas, além de lançamentos de livros e poemas.
Neto de americanos, Duke Lee cursou desenho livre no MASP, o Museu de Arte de São Paulo, em 1951, e depois na Parson’s School of Design e no American Institute of Graphic Arts, duas conceituadas escolas de arte dos Estados Unidos, em 1952. Ele foi um dos pioneiros da Pop Art no Brasil, além de ter realizado trabalhos como o fotógrafo Otto Stupakoff e os artistas Bernardo Cid e Pedro Manuel Gismondi. Viveu na Áustria e na França antes de retornar a São Paulo.
Duke Lee foi um dos fundadores do movimento Realismo Mágico, inspirado na Semana de Arte Moderna de 1922, e do movimento Rex, que incluía uma galeria de arte de mesmo nome e um jornal chamado Rex Time, sobre artes plásticas. Provocador, se ofereceu como voluntário para testes de LSD numa clínica em 1964. A aventura rendeu uma série de telas com reflexões políticas.
Ele, que sofria há três anos do mal de Alzheimer, morreu de parada cardíaca. Os direitos de sua obra estão sob a guarda de sua sobrinha Patrícia Lee e o acervo sob tutela dos marchands Ricardo Camargo, em São Paulo, e Max Perlingeiro, no Rio de Janeiro. Uma cerimônia aberta ao público de despedida será realizada no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, às 16h desta terça-feira (14).
Confira aqui uma galeria de imagens do artista e de seus trabalhos
domingo, setembro 12, 2010
Uma Bienal não pode optar por arte "best seller'. Isso não existe.
sábado, setembro 11, 2010
BIENAL DE SÃO PAULO: UM MORTO BARULHENTO
Reedição ampliada do texto: BIenal de São Paulo - Um morto barulhento - de 04/10/2006/HiperBlog
Nunca um texto de 4 anos atrás enquadra-se tão bem à realidade atual. Adriano de Aquino brilhantemente relata o definhamento das Bienais ao longo dos últimos 20 anos. Quando muito, elas provocam uma sensação frustrada de Déjà vu. Tentar inovar sem considerar as mudanças sociais e tecnológicas, que também afetam o cenário artístico, é no mínimo uma infantilidade. As razões muitas vezes apresentadas seriam exatamente aquelas que justificariam a busca de um novo formato. No entanto, sabemos que as verdadeiras razões é, de fato, o continuísmo do uso da instituição por grupos que insistem em manipular o mercado em benefício próprio. (FFA)
Controvérsias reaparecem a cada nova edição da Bienal São Paulo. Elas se originam do esgotamento das formas de amostragem de arte, conceituação e modelo de gestão dos grandes eventos. Muitos afirmam que as mega-exposições há muito deixaram de ser um elo ativo entre a pluralidade das experiências estéticas e o publico. Essas opiniões coincidem com os protestos de vários grupos contra a investida mercantil sobre os produtos artísticos, associados a esse tipo de evento.
Críticos das feiras de arte e das grandes mostras internacionais focam suas ofensivas sobre os métodos do marketing cultural que enfiou turismo, antropologia, divertimento, arte e cultura num mesmo saco, melhor dizendo, num mesmo ambiente refrigerado e lacrado contra ruídos da cultura contemporânea que acontecem do lado de fora.
As grandes mostras tornaram-se paquidermes em processo de desintegração. Os curadores investem sobre o que resta de orgânico num material em decomposição.
As sucessivas mudanças artísticas, provenientes, entre outras coisas, da dinâmica da era dos meios eletrônicos, expandiram consideravelmente as formas de expressão. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que a variedade de informações hoje disponibilizadas, produziu um enorme impacto na vida social. Acreditar que a criação artística ficou imune, protegida no casulo da genialidade criativa é tolice. Para quem enxerga para além da propaganda o que se evidencia na manutenção do velho sistema é uma estratégia que beneficia grupos de interesses mercantis e econômicos.
Porém, os curadores não vêem isso e se prontificam a salvar os restos mortais da instituição reabilitando-a como uma espécie de zumbi transglobal.
Será que acreditam poder voltar no tempo e nos surpreender, reeditando as polêmicas bienais dos anos 60 e 80?
A Bienal de Veneza de 1980, que serviu de vitrine à versão de Charles Jencks para o pós-modernismo, decretou o fim desse modelo de exposição. Essa Bienal foi o último elo de ligação efetivo das grandes mostras com as questões mais radicais da arte e que teve como resposta o entusiasmo do público.
Como esse fato histórico não é uma advertência contra a mesmice, o publico é coagido a assistir as repetições infindáveis do mesmo show, com pequenos cortes particulares. Lamentavelmente, mais medíocres.
Os cientistas, em coro com alguns artistas, acham melhor isso do que nada.
Francamente, sem querer estragar a festança nem sujar a vitrine, prefiro o nada. É mais estimulante.
Se o sopro criativo dos curadores, ou melhor, dos atuais “cientistas da criatividade” conseguisse superar os feitos do passado marcando uma diferença crucial com o sistema de arte dominante eu não seria tão incrédulo. Porém, não é o que vemos. As grandes mostras de arte da atualidade são como rituais arcaicos que orbitavam em torno dos curandeiros. Os cientistas da criatividade são hoje cultuados e temidos como os curandeiros do passado remoto. Essa nova espécie de “meteur em scene” vem perturbando o sono de muitos artistas. De um tempo para cá o mundo das artes foi envolvido numa atmosfera artificial carregada de ansiedade.
Motivos não faltam.
O mais significativo tem origem nas vertentes da vanguarda contemporânea que, ao contrario da vanguarda histórica, derreteu o outsider no insider.
As obras que não se encaixam no esquema em voga não são nem outsider nem insider, portanto, não merecem atenção dos cientistas da criatividade.
Eles não almejam apenas organizar uma mostra de arte, pretendem, isso sim, precipitar-se à história.
As atitudes artísticas que antecederam os últimos trinta anos, marcadas pela transitoriedade, romperam barreiras e descortinaram conceitos, trazendo à tona novas formas de expressão. Uma enorme variedade de estilos coincidiu com a atração generalizada pelo efêmero, despindo as obras de arte das características outrora reconhecíveis como “arte burguesa”.
Porém, tais atitudes resultaram num paradoxo que parece não preocupar alguns artistas e gestores das instituições culturais. Dentre as inúmeras questões a mais aparente é a consolidação de um estilo mundial de arte inscrito nas performances, instalações, intervenções coletivas, grafites, pichações e outros gestos identificados como formas de arte mais representativas da atualidade.
Ocorre, entretanto, que tais gestos já duram mais de vinte anos, ou seja, se projetam acima da média de vida de quase todo estilo internacional de arte. A história é farta em exemplos que nos confirmam que a longa permanência de um modo de arte conduz ao esgotamento levando grande parte da produção a procedimentos quase mecânicos e a ostensiva banalidade. É inconcebível, mesmo para um leigo, que artistas, diretores e curadores desconheçam o calendário das correntes estéticas da segunda metade do século XX, quando a Bienal de São Paulo passou a existir.
Uma rápida olhada sobre a descontinuidade de estilos pode esclarecer muita coisa. A pop art que surgiu na Inglaterra de meados dos anos 50 realizou todo o seu potencial na Nova York dos anos 60. O expressionismo abstrato dominou as décadas de 1940 e 1950. O minimalismo desenvolveu-se durante os anos 50/60 etc.
É, portanto, no mínimo curioso que as diversas variantes da produção artística atual, ligadas às referencias artísticas que antecedem os anos 80, sejam tão longevas.
Além disso, a relutância da Bienal de São Paulo em permanecer surda às criticas contra a idéia de reunir obras de arte em torno de um tema (2010- Arte Política –por exemplo) é uma teimosia típica das dinastias do passado. Na edição 2006, a falta de inspiração da cientista da criatividade responsável pela organização da Bienal, a levou a se apropriar de um “mote” de outros campos do saber para conferir substancia a sua proposta de vinculação da arte a teses de antropologia cultural. Foi nesse nicho que a cientista da criatividade escolheu o titulo Como Viver Junto, inspirado nos seminários de Roland Barthes no Collège de France realizados em 1976-77. O que essa escolha nos revela? Dentre os muitos tropeços, a falta de parâmetros apropriados ao tempo presente e uma enorme incompetência frente à diversidade da produção artística da atualidade. Reflexos objetivos dessa política podem ser vistos na perda da visibilidade pública das expressões estéticas comprometidas com a tecelagem de tramas simbólicas, ou seja, narrativas. Em resumo, na sua extensão mais objetiva essa política impõe uma visão “única” da arte da atualidade.
Atitude velha e comum ao autoritarismo. Seja em São Paulo, Kassel, Lisboa, Madri, Istambul ou Turquistão Oriental.
sexta-feira, setembro 10, 2010
ARTE E LITERATURA, REGISTRO E EMBATE
As primeiras relações entre as duas formas de expressão aparecem nas ilustrações feitas em obras literárias no século XIX, quando surgiram os ilustradores de obras clássicas como A Divina Comédia, Don Quixote ou as Fábulas de La Fontaine. Gustave Doré figura como principal referência. Não alterou a função da obra, elucidou imagens presentes no corpo da literatura, nos moldes dos significados que a época histórica permitiu. Salvador Dalí ilustrou o mesmo romance quixotesco e, através da visão surreal e do pensamento fragmentário que permeou a virada do século, registrou as mudanças na forma de construir – desconstruir – o pensamento. Quixote se atualiza pelas mãos da arte, reveste-se de subjetivismo, tal qual a época anunciada por Dalí em sua criação.
Antonio Henrique Amaral, mais recentemente, compõe o livro “Resmungos”, de Ferreira Gullar, dando ao livro não apenas imagens deslocadas do contexto, mas serão as ilustrações quem darão o ritmo ao conjunto de crônicas do poeta. O ilustrador se vale de mais de uma forma técnica – aquarela, xilogravura, acrílico, colagens – para colidir propositadamente com os resmungos de Ferreira Gullar.
Um diálogo imbricado, necessário, no qual a língua estanca frente ao universo criador do artista e no qual a arte se estabelece como extensão da palavra.
Antero de Quental, em 1865, para falar em nossa língua, produz um dos mais importantes documentos que pede definitivamente a quebra da estética conservadora da literatura, através da carta panfletária “Bom Senso e Bom Gosto”, chamada de Questão Coimbrã, em resposta a Castilho, que criticava o novo caminho modernista dos poetas portugueses, segundo Antero uma crítica "à independência irreverente de escritores que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência". Neste grupo modernista esteve Almada Negreiros, rompendo as formas estéticas da pintura realista, criador das antológicas capas da revista Orpheu, que alardeiria em apenas duas edições de pouco mais de 400 exemplares, o modernismo em nossa língua portuguesa e protagonista da primeira ‘performance’ de que se tem notícia, vestido de operário para se apresentar numa conferência.
Aqui no Brasil este trabalho ficou por conta da turma do Mário de Andrade, Bandeira e Oswald, unidos em causa – e efeito – aos artistas plásticos e músicos de sua geração. Todos contra os ‘sapos parnasianos’...
Mais recentemente Haroldo de Campos, Décio Pignatari e ainda Arnaldo Antunes têm construído essa trama complexa de unir imagem e palavra em forma de poema. Relacionando o sentido e a forma para ampliar o movimento do olhar, expandindo a possibilidade de devaneio do leitor/expectador.
A poesia tem se convertido em objeto estético. Para o poema o suporte já não precisa mais ser a página de um livro. Para Octávio paz, “A poesia concreta é uma vanguarda no sentido de arte que busca a ruptura”, mesmo movimento que se manifesta as artes plásticas por volta dos anos 50/60.
Atualmente não é possível definir a expressão poética por meio de um único estilo ou formato. Cabe tudo, todas as maneiras, como já prenunciava um dos precursores do modernismo português, Fernando Pessoa, pela voz de Álvaro de Campos; “Sentir tudo de todas as maneiras”.
O concretismo não está superado, estabeleceu-se como um dos estilos de expressão poética, assim como a arte de vanguarda. Cultura é processo constante, indefinidamente alimentada por ações individuais ou coletivas, mas especialmente por aquelas que provocam rupturas em moldes ultrapassados, atos que em si já contém a fórmula do novo. Sem conceitos pre estabelecidos.
Por este motivo o formato BIENAL já nasce ultrapassado por si mesmo. Sob a égide de um tema limitador, inibe expressões espontâneas, colocando limites autoritários e mercadológicos. É preciso dar espaço para as várias manifestações, expressões dos mais variados tipos de arte, representações diversas, como é diverso o ambiente criador brasileiro, sem anunciados preconceitos, como no caso da arte de rua, agregada posterior e contraditoriamente a atitude excludente inicial. É historicamente comprovado que a arte ao ser excluida se fortalece, por isso, é uma atitude absolutamente inocua a de colocar a margem segmentos significativos da expressão artística.
Mitos Vadios, segunda edição de uma manifestação idealizada por Ivald Granato, alarga o conceito de modelos pre estabelecidos, ganha importância na medida em que não propõe formatos, ganhando características próprias exatamente no processo de sua feitura, agregando ideias, permitindo quaisquer tipos de criação artística – performance, teatro, dança, poesia, artes plásticas - objetiva ou subjetiva, tornando-se assim, a própria manifestação, um objeto de arte – articulada coletivamente.